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Ave Butler! Hail Derrida!

Devido a ações de Patrulha da Moral e Bons Costumes nos meus murais do Facebook (radfems? Terfs? Gente besta em geral?) resolvi trans-ferir as "imundícias" todas no meu blog, Afinal é pra isso que esse espaço serve: compartilhar tudo que é imoral e não presta.

Só pra constar: acho a coisa mais coerente do mundo "feministas radicais" denunciarem a gente exatamente por divulgar fotos e apoiar eventos feministas. Show-de-bola! #SQN

Começaremos nossa jornada por este maravilhoso e instigante mundo da nudez militante, demoníaca e corrompedora da juventude, pelo que há de mais escroto. Vejam só que imagem horrível, Cadeia pro miserável que teve a pachorra de pintar algo tão imoral!



As fotos a seguir foram tiradas na fatídica Marcha das Vadias de 2013 em Copcabana. Vejam o nível da audácia:


AS fotos à seguir foram tiradas durante a ocupação no Consuni da UFRJ, por ocasião da luta contra a ABSERH. Um ultraje à família brasileira:

"Santa libidinice, Batman!"

"Mãos nuas?!? Que horror, chamem a polícia!"
Flagrante inesquecível do 8º ENUDS (Campinas, 2010):




Um quibe nú! Mas quanta putaria!




Nem a Mãe Natureza se livrou da semvergonhice descarada:


E pra quem ainda não entendeu a mensagem (desenhar ajuda?)

"Não se preocupe, esta pode. São só mamilos"(hehehe...)
Campanha Nacional: "Meu cu pro preconceito!" (sim, trata-se de minha bunda)
Eu fiquei tão absurdamente decepciondx com estas pessoas, e tão perplexx, que resolvi botar um hino do roqueiro-reaça Roger. Da época da Abertura Democrática, em que a gente era PTralha, eramos felizes. sabíamos e não estávamos nem ai pra censura.



As amigues, pessoas sinceras, honestas, de boa-vontade e senso-de-humor, meu cheiro. As inimigues, vida longa!

No closet

Desbundai e putiái!

"Run to The Hills!".

terça-feira, 1 de abril de 2014
Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

Pornoterrorizando com Marvel Nessa

sexta-feira, 21 de março de 2014
Ave Butler! Hail Derrida!

Segunda parte de uma série de duas postagens especiais em anti-comemoração do 8 de Março-Dia Internacional da Mulher "Trabalhadora" (como se não o fossemos todxs), explicando por que não construo essa data reacionária:

(continuando...)

Então qual seria a solução? Como fazer mudanças profundas na sociedade sem empoderar este tipo de discurso? Qual a tática mais apropriada? Eu vejo duas opções que não são contrárias, nem inter-excludentes, pelo contrário, podem até se juntar numa tática só: pacifismo e redefinição/desvirilização da violência. Isso sim é revolucionário por que quebra com paradigmas muito bem calcados na mente das pessoas. Porque não seguimos o exemplo de Mahatma Ghandhi e fazemos greves de fome silenciosas na frente das prefeituras e marcos de nossas cidades? Garanto que seria bem mais construtivo que continuarmos quebrando coisas dos outros, que pertencem à comunidade, chamaria mais atenção da mídia e apoio da sociedade. E se a policia vier nos bater ou dar voz de prisão, sigamos o exemplo do Cabo Daciollo, militante que se destacara na greve dos bombeiros em 2011, apanhemos calados em frente das câmeras, pois como diz o ditado “quem parte para a ignorância, perde a razão”. A violência viril é monopólio do Estado e da policia (cuja truculência é a única razão de existir). O monopólio da razão pertence aos oprimidos, explorados e excluídos.
                                                      
Vieram me mostrar até (quem diria...) o Levante de Stonewall, aquela defesa do "vicio burguês do homossexualismo" como um exemplo de como a violência pode ser um meio útil de alcançar vitórias políticas. Concordo em parte, pois este episódio também é um belo exemplo de como a idéia varonil de “violência justa” pregada pela esquerda radical pode e deve ser desmontada. Stonewall foi um marco singular, exatamente porque se propôs a romper com uma das mais duras e profundas estruturas sociais, a opressão de gênero, a subalternização do feminino. E pela tática de empoderamento e reprocessamento dos xingamentos à que aquela população se expunha cotidianamente, pela “guerrilha da linguagem”, podemos afirmar que foi a primeira Revolução ”Queer” da história. Houve bombas caseiras e barricadas, mas aprendemos a usar armas mais potentes chamadas “perucas”, “batom” e “salto alto”. 

Enquanto  noutros eventos se usava e ainda se usa de imprecações desrespeitosas para com as minorias sexuais e as mulheres, as bichas do Village desfilavam de forma exuberante na frente da polícia, cantando "I Will Survive" “Somos as Bonecas de Stonewall”. De modo algum fora um episódio classista, porque, apesar de toda uma diversidade política presente, a motivação, o ensejo, coesão e coerência às manifestações fora a busca pelo direito à consumir num bar. Dizer que Stonewall foi um evento classista é tão surreal quanto afirmar que os atuais "rolezinhos" são anti-capitalistas. Stonewall pareceu mais um levante “pró-pink-money” que uma revolução bolchevique- aliás, segundo um dos remanescentes, “que terminou antes de acabar”. Discordo, o espírito pacifista de Stonewall esteve presente ás mobilizações de 2013, alias foi o responsável pelos poucos avanços que tivemos nas consciências. Sobre O Junho de 69 teremos um artigo bem caprichado mais além, por ora evidencio que não foi nada ligeiramente parecido com aquilo que a esquerda revisionista aponta.
"Virilidade revolucionária? Me poupe"

Para se ter uma idéia do nível de virilismo e dominação masculina imposto pelo processo revolucionário, basta erguer os ouvidos à frases "inspirativas" tais como "a revolução só será feita com saaaangueee!". Mais testosterona do que sangue, digo eu, com sangue de gente inocente, porque a história demonstra que os mais radicais sempre se escondem nas suas casamatas quando a violência explode. Um indivíduo acaba de me "informar" que não haviam cartazes nem panfletos durante a Revolução Francesa (oi?!). Pelo contrário, a invasão das Tulherias nada mais foi que um levante muito mal organizado, sem o menor cuidado de raciocinar a conjuntura (vulgo "porralouquice juvenil"), que veio a coroar séculos de iluminismo.E que só deu certo, só mudou alguma coisa militarmente, devido ao fator-surpresa: o rei perplexo e assustado resolveu fugir de Paris ao invés de mandar as tropas aniquilarem os revoltosos, o que seria feito muito facilmente. Eu leio isto no Facebook ouvindo a Marselhesa de fundo só pra demonstrar que não houve nenhuma produção cultural no evento que não se resumisse à sangue e virilidade...

Revolução (a genuína) nada mais é que mudança de paradigmas, um momento no qual as pessoas deixam
de pensar de um maneira para pensar de outra. Ora, quando um PSEUDO-revolucionário parte para a "ação direta", fechando qualquer espaço de debate e construção coletiva, vira as costas para a classe que diz defender e para as minorias que diz respeitar. Ignora que suas atitudes negam o caráter salvífico das idéias livres. Seu autoritarismo viril nega-lhe o direito de se autodenominar "revolucionário", pois sua atitude, no tocante ao gênero é extremamente conservadora. Empodera-se à quem já tem poder. Toda forma de violência viril é patriarcal. É através da demonstração de atos de virilidade e bravura que o menino aprende desde cedo a ser homem, a oprimir os mais fracos, a comandar as mulheres. Uma revolução para ser feminista precisa antes de tudo ser pacifista, ou ao menos romper com a ideia de "violência justa" pregada pela Esquerda Revolucionária- ou seja, pelos homens viris que sempre estiveram no Poder. ISTO, destruir a cultura da virilidade, é luta real contra o tal machismo.

(Enterro de militante sírio. Aonde está o Wally? Aonde estão as mulheres?)


Diferentemente do um professor que certa vez me explicara em sala de aula que, para o revolucionário de esquerda não há sexo nem gênero, por que todos seriam iguais nas tarefas, replico que sim, o revolucionário tem gênero: o gênero troglodita. Tanto é assim que as mulheres são estimuladas a fazerem os mesmos trabalhos que os homens (em teoria) e apresentar o mesmo padrão de performance, usar as mesmas armas, etc..., mas nunca o homem é estimulado a fazer os serviços ditos "femininos". Nunca a luta pacifista é incentivada, justamente por ser coisa de "mulherzinha". Quando em muito se fala na justíssima "divisão do trabalho doméstico", deixando transparecer que para o discurso esquerdista o trabalho culturalmente delineado como feminino é inferior  e desimportante, um fardo desnecessário que deve ser dividido entre todos, ao invés de uma nobre ocupação sem a qual a vida em sociedade torna-se inviável. Aliás tem organização que até hoje discute se é legítimo ou não uma mãe zelosa lavar a camiseta vermelha do filho enquanto ele está na rua enfrentando a policia.Tudo em nome da noção de "progresso" imposto pelo homem branco e barbudo marxista/anarquista.

"sangueee..."
Evidente que não se pode generalizar, no sentido que não existe um homem e uma mulher universal. Também não se pode resumir a biografia de ícones da esquerda como Che, Trotsky e Phroudon à violência contra os "gêneros mais fracos". São símbolos legítimos de esperança para aqueles que os seguem, porém o que se vê e o que se denuncia é que no quesito "relações de gênero" a política revolucionária é historicamente a mais desastrosa, tanto no discurso, quanto na práxis. O foco principal, senão o único da agenda, é a universalização da cultura da macheza, já que os machões não querem abrir mão de seus privilégios. Numa batalha campal entre a juventude da esquerda e a "burguesia", não importa que lado saia derrotado, o discurso virilista sempre sairá vitorioso.. E tal práxis não é nada subversiva, pois (re)condiciona didaticamente a juventude a seguir o mesmo modelo de comportamento sexista tão criticado na sociedade judaico-cristã, homens na frente de batalha, mulheres e minorias brandindo bandeirinhas vermelhas atrás. Considerando as táticas e performances dentro da lógica didática, o partido/coletivo não passa de uma "concessão" social, introduzida pela sociedade cis/heteronormativa e que teria como objetivo formar uma juventude machista e virilista. Como as esquerdas almejam fazer luta contra o machismo, se suas práticas de luta, suas virtudes se baseiam no que há de mais violentamente sexista que são os exércitos e a luta armada?

Um amigo meu, marxista, disse que "precisamos de mulheres na revolução". Discordo, o que os revolucionário precisam urgentemente é do FEMININO na sua práxis. Talvez se prestassem mais atenção às falas das bichas afetadas, aprendessem algo além de repetir a heteronorma como papagaios. Seja como for, me parece uma luz no fim do túnel. Espero que não seja mais uma vez o trem do sexismo vindo em nossa direção.


*Sobre a participação das mulheres na revolução Francesa, encontrei um artigo bem didático e acessível feito pelo Deptº de História da UFF (autoria não assinalada): http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/A_mulher_e_a_revolucao_fran

=> Leia a 1ª parte: http://covildamedusa.blogspot.com.br/2014/03/o-genero-revolucionario-e-macheza.html

 No closet

Desbundai e putiái!
Ave Butler! Hail Derrida!

Primeira parte de uma série de duas postagens especiais em anti-comemoração do 8 de Março-Dia Internacional da Mulher "Trabalhadora" (como se não o fossemos todxs), explicando por que não construo essa data reacionária:

           "Nós somos as netas da bruxas queimadas nas fogueiras da Inquisição. Mentirinha, aquelas eram nossas tataravós. Nós somos as netas das revolucionárias mortas e estupradas por seus companheiros atrás das barricadas"
          "Os black blocs estão para os movimentos sociais e para a esquerda, assim como o FEMEN está para os movimentos feministas. Por que razão ainda não escurraçaram os primeiros como fizeram com os segundos? Seria por causa da defesa intransigente do machismo revolucionário?"

*Em memória do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, assassinado enquanto cobria embate entre PMs e manifestantes bandidos no Rio de Janeiro. Mais uma vítima do machismo revolucionário.(Bob Fernandes comenta o caso: https://www.youtube.com/watch?v=LPDGmpdKnKQe)


Delacroix; "A Liberdade guiando o povo"


 Estou uma pilha com o macho-ismo e o virilismo na esquerda auto-proclamada revolucionária. E é disso que falarei nesse artigo, alias sobre isso desabafarei. Falo enquanto pessoa oprimida que apanhava e era colocada de castigo pelo pai, por andar desmunhecando, falo enquanto menino que levava sova dos colegas na escola e era motivo de piadas por parte das meninas.Tenho militado a 7 anos junto ao movimento LGBT e aos militante da esquerda brasileira, já fiz parte de um partido, uma sigla bastante conhecida no meio político, já tive contato com gente de outros partidos, e de coletivos anarquistas. A maioria dessas pessoas são exemplares militantes e amigos excelentes, porém devemos admitir que as violências de gênero, machismo e LGBTfobia (sendo esta uma versão mais elaborada do machismo)prolifera nos coletivos e partidos. A minha explicação para isso, e vou defende-la, é simples, direta, honesta: a macheza (comportamento que gera e nutre o machismo e o virilismo)  é inerente à ideologia revolucionária, não há revolução, na sua ascepção mais comum, sem virilismo. Minha posição atual, é que enquanto houver opressões a Revolução será impossível, com o fim delas, a Revolução será desnecessária.

Vou na direção contrária à de certos discursos que tenho ouvido/lido pela internet, como o de Cecília Toledo e Heleieth Saffioti, para quem  (baseado no panfleto de Evelyn Reed, provavelmente) a luta das mulheres seria uma luta de classes contra a burguesia e não uma organização mundial baseada no marcador que separaria e gera uma opressão específica, o gênero , em especial quando entendido como uma divisão biologicista, essencialista e dicotômica, discurso inventado e sustentado até hoje (e aqui a grande ironia) por cientificistas "burgueses", marxistas e anarquistas.  Utiliza-se da embotada estratégia de jogar o oprimido contra um inimigo em comum, exterior, enquanto se beneficiam da "Luta de classes" para sabotar a "auto-organização" de mulheres e minorias sexuais contra seu inimigo histórico: a virilidade compulsória, geradora da relação desigual de poder. 

Se as esquerdas estivessem realmente preocupadas com a reprodução do machismo nas suas fileiras, se uniriam às mulheres e bichas burguesas para derrotar o sexismo no interior de suas organizações, reunificariam a classe trabalhadora (cuja divisão supostamente ensejada pelas opressões vivem denunciando) e só depois, com a classe reorganizada, pensariam numa revolução proletária. Mas preferem botar o carro na frente dos bois, pois como afirma a mesma Saffiotti e suas seguidoras, a discussão vital das relações de gênero é inacessessível as mulheres proletárias (mais fácil discutir mais-valia e ler O Capital, suponho) As marxistas dizem "o gênero nos une, a classe nos divide", ao que respondo, com certa base na literatura pós-feminista que sigo, "o gênero nos oprime, o classismo nos divide". Ou pelo menos assim tem sido, infelizmente. Lá insistem em falar que o problema da opressão de mulher e das minorias sexuais é de classe, aqui respondo que é puramente de performance, de comportamento, de cultura. Lá estudam e pensam a respeito da "classe mulher", aqui inverterei o discurso e me referirei, já desde o título, ao "gênero revolucionário". Lá se fala em "machismo", por aqui inaugurarei o conceito de "virilismo"


Pintura de Giuseppe Pellizza da Volpedo, intitulada "O quarto poder'', 1901. "Quem não milita, segura a criança"



Por virilismo entendo a reiteração, a legitimação do poder masculino- e nunca "do homem", frise-se, da idéia de que o macho viril é superior (indiferente de seu sexo), portanto a ele cabe o poder e a supremacia na sociedade patriarcal. Tal poder não tem de modo algum origem na propriedade privada, pois já existia dominação de um grupo sobre o outro, muito antes do surgimento e independentemente desta- aliás, em alguns momentos da história, como na XVIII Dinastia egípcia, mesmo com o acumulo de tesouros, tivemos amostras de poder feminino e não podemos nos esquecer que na época de Marx e Engels uma bio-mulher dominava simbolicamente a Inglaterra. O virilismo não tem nenhuma ligação direta com a burguesia, é uma ideologia que perpassa todas as classes sociais, todos os gêneros, raças e culturas.

França, 1789: a velha luta pela supremacia masculina?
Uma vez definido o que entendo por “virilismo”. Voltemos a questão revolucionária. Em nenhuma revolução históricamente notável se viu a participação massiva de mulheres e minorias sexuais, a não ser no papel de vitimas e perseguidas. Na Revolução Francesa, os próprios revolucionários fizeram questão de apagar dos anais a participação feminina. Com excessão de Charlotte Corday, a mínima participação delas não aparece, embora esse assunto esteja sendo agora retomado por pesquisadoras, que teriam encontrado indícios de participação feminina rechaçada no inicio do movimento. Já nas listas das cabeças guilhotinadas...

 Como o modelo dicotômico cientificista que separa os sexos/gêneros até hoje não existia àquela altura é possível afirmar com certa segurança que não havia entre as pessoas diferenciação acentuada, muito pelo contrário, excetuando a ênfase na maternidade (devidamente reproduzida por bastiões da esquerda como Engels e Kollontai, quando continuam empunhado a bandeira reacionária e sexista por "creches"), o lugar de homens e mulheres na sociedade feudal era idêntico, e praticamente não havia divisão sexual do trabalho. Com excessão dos subversivos, os "queer" da época que não se incluíam em nenhum dos gêneros, como as bruxas e os hereges, o que havia era uma perfeita simetria intercomplementar, uma harmonia entre os gêneros que os revolucionários da esquerda contemporânea sequer imaginam como replicar.  Tal divisão sexuada do trabalho surge com toda força no começo da Era das Revoluções, ou seja, diferentemente do que afirma Regina Navarro (O Livro do Amor) o tão falado modelo patriarcal não acabou com a Revolução Francesa e sim começou com ela. A mais conhecida alusão à figura feminina nas artes esta numa pintura de Delacroix, que representa a Revolução como um mulher com os seios desnudos, representando alegoricamente o lugar da mulher no processo revolucionário, enquanto mãe que nutre os seus filhos.

Na Revolução Russa, idem, muito embora feministas revisionistas jurem de pé junto (geralmente se baseando em autores virilistas como Lenin e Trotsky) que o movimento se iniciou como uma greve de mulheres. Mas é fato reconhecido que as posições de poder, a cúpula coube sempre aos homens viris. Em Cuba, além das mulheres aparecerem bem pouco, ainda os lideres, em especial Ernesto “Che” Guevara ( o protótipo do machão revolucionário latino-americano) obrigava-as  à praticar aborto contra a própria vontade e mandava os maricón à morte por extenuação no cargo mais estafante da ilha:cortar cana de sol-a-sol- exatamente como a burguesia vitoriana inglesa teria feito algumas décadas antes com Oscar Wilde. O argumento, conforme apresentado pelo próprio Che (adivinhem...) era que a pederastia manchava a imagem do homem ideal revolucionário- aliás, a mesma tese defendida por Engels em A Origem da Familia (1860), quando acusara a pederastia dos homens pela opressão das mulheres na Grécia Clássica. Mas a esquerda radical brasileira idolatra-os, veste camiseta com suas efígies, inclusive para ir a atos contra o machismo e homofobia. Irônico, para não dizer patético.

Leila Khaled, diva
Recentemente, uma organização me convidara a assistir uma palestra sobre a atual “Revolução Feminista” na Siria, que fora apresentada por uma militante vinda de lá. Como ela mesma dissera, as mulheres têm tido um papel importante no processo cobrindo os conflitos e fazendo reportagens e filmes no front. Estranho que no filme que ela mostrara durante a palestra, à certa altura mostra-se uma suposta assembléia do exército rebelde que acabara de tomar uma cidade, mas não reconheci no filme nenhuma mulher/minoria sexual numa posição de poder, discutindo e votando as decisões. Aliás, uma série estúpida de conflitos que já vitimizou mais de 100.000 cidadãos só por causa da teimosia (leia-se “machismo”) de rebeldes que ainda não entenderam que a Guerra Civil foi perdida, não conseguiram angariar o apoio da ONU e da comunidade internacional e estão rebatendo as bombas de caças do ditador Bashar al-Assad com “estilingues” e muita testosterona. Apóio e acho justíssima a bandeira pela queda daquele ditador sanguinolento, títere do imperialismo ianque, mas a falta de bom-senso é generalizada e mata.

Enquanto isso, os revolucionários "feministas" sírios apedrejam garota até a morte pelo crime hediondo de  fazer uso do Facebook: http://daily.bhaskar.com/article/WOR-syrian-girl-stoned-to-death-for-using-facebook-account-4521918-NOR.html


Virou moda em alguns espaços revolucionários mostrar mulheres armadas com fuzis e metralhadoras. Não há novidade nisso, na década de 1960 já tinham estampado nos jornais e revistas a bela figura da hjacker  (“seqüestradora de avião”) e uma de minhas heroínas favoritas do século XX, Leila Khaled. Mas conceder lugar de fala, poder e decisão às mulheres, já é vandalismo. Pelo contrário, por nossas paragens há quem critique o governo Dilma, como a prova de que a tese do “empoderamento” (feminino) não funciona. “Mulher no volante, perigo constante. Na frente do Estado, perigo dobrado”. O mais bacana é que não funciona mesmo, pois, como tenho defendido, nada importa o que x governante tem no meio das pernas. O problema é a forma máscula, violenta, excessivamente objetiva e fria como sempre entendemos e tratamos a política no Ocidente.


 No closet

Desbundai e putiái!
Ave Butler! Hail Derrida!

Texto que escrevo com todo carinho e sentimento por ocasião do Dia da Visibilidade Trans* (29 de janeiro) e como parte "extra" da blogagem coletiva nos sites feministas, LGBT's e aliados, mesmo na correria, achando que não o terminaria a tempo, espero que seja bastante útil. Sobre o tema e a abordagem, acredito que não seja nada pioneiro. Lembro-me de ter lido algo parecido em algum artigo acadêmico, cujo titulo acabou por se perder na memória. Escrevo, ou melhor desabafo, trazendo à tona uma série de sentimentos e de vivências pessoais, partindo do pressuposto de que o pessoal é político. Mas não falo daquela política que se faz nas ruas, nos espaços formais de militância e sim das lutas e das batalhas titânicas que acontecem todos os dias dentro da gente. Falarei com o coração sobre um tema que venho ensaiando à anos para escrever neste espaço e que acho que tenho maturidade e coragem para escrever.e espero que me leiam com o coração. E serei um pouquinho irônica tá?

Acabo de re-assistir à edição de 25º Aniversário  de O Fantasma da Ópera (Andrew Lloyd Webber), musical que sempre me emociona . Aliás, conheço todas as musicas de cor. E chorei de novo igual um bezerro desmamado, por me identificar muito com a sina de violência e desamor vivida pelo personagem-titulo. Não posso deixar de fazer paralelos entre a vida afetiva da maioria das pessoas trans*  (ou não-dicotômicas/não-identificadas), com a larga produção cultural em torno dos livros e filmes românticos do horror gótico. Se a vida desses pessoas se resume a provar aos outros que somos seres humanos, não me parece nenhum exagero tal comparação. Quem leu ou assistiu aos filmes  Edwards Mãos-de-Tesouras, Corcunda de Notredame, Drácula e Fantasma da Ópera já consegue se adiantar e entender a que estou me referindo. Não se trata de "vitimismos", mas de fazer as devidas comparações, aproveitar a metáfora dessas obras para debater a vida afetiva de quem é "diferente".

De uma maneira geral, todas essas obras, a maioria surgida como novela ou folhetim no século XIX ou começo do XX, segue uma mesma estrutura- até pra facilitar o diálogo com seu publico: a mocinha  se apaixona perdidamente pelo galã viril, depois à certa altura ela tromba com ums monstrx deformadx que se apaixona por ela, o galã que até então era o mocinho da história mostra-se um bandido ciumento e inescrupuloso (as vezes tem um terceiro personagem que faz esse papel, para tornar a trama mais complexa), x monstrx mata o mocinho para proteger sua amada e por ultimo a turba dos moradores da cidade se revolta pela morte do galã acima de qualquer suspeita e mata/expulsa x monstrx. 

Dai começaremos nossas críticas, nossa relação entre estas estórias e as narrativas afetivas das pessoas trans*. X monstrx é sempre assexual, elx pode até causar desejo, mas é com o mocinho que se espera que a mocinha fique no final e viva feliz para sempre. Indo mais além, x monstrx é sempre incapaz de amar e de sentir desejo. Perdi as contas de quantas vezes já me declarei para meninas (sou lésbica) e resultado sempre foi mais que um silêncio, uma indiferença mortal? È como se para as pessoas cis* uma declaração de amor, um "eu te amo/desejo" fosse tão profundo como um "batatinha quando nasce". É como se pessoas que estão fora da ordem fossem automaticamente desamáveis. Recentemente meu terapeuta disse diante das minha lamentações que eu deveria tentar ser mais amável, respondi-lhe que serei amável com quem o permitir, se e quando permitirem.

X monstro é sempre imoral. Afinal, em nossa sociedade ainda vitoriana, o estado do corpo representa o estado da alma e vice-versa. Toda tentativa que ele fizer para se aproximar do ser amado será sempre motivo de chacota, para ele e para a pessoa. Qualquer ato de bondade que fizer será visto como segundas intenções e se ele ousar chegar à menos de 500 metros será automaticamente acusado de estupro. Aliás, para alguma pessoas o simples fato dx monstrx existir e respirar já x torna umx estupradorx, umx agressorx em potencial. Nem falarei sobre a questão da loucura (x monstrx é sempre insano) porque no caso de pessoas trans*, o  acusador ainda conta com o CID-10 e o DSM-IV, manuais de psiquiatria e de saúde reconhecidos mundialmente pela OMS, para comprovar.

Queiram ou não a beleza padronizada dos normais é o passaporte por excelência à humanidade. Quantas vezes nos surpreendemos, ou píor, acabamos por reproduzir e naturalizar falas como "mas era umx moçx tão linda" em nosso dia-a-dia, especialmente quando uma pessoa querida e socialmente aceitável comete algum crime ou morre ou se suicida? O fato é que em nossa sociedade ainda vitoriana a cisnormatividade entendida como "o belo" trás privilégios ilimitados, torna a pessoa que se submete a ela, se  inclui na normas "imorrível" e  indefectível.

Final feliz, guetificação ou segregação?
A violência do mocinho é sempre justa, saudável, legítima, afinal ele representa a maioria, a norma, as virtudes desejáveis. A violência dx monstrx é sempre egoísta, torpe, maligna, pois representa apenas a própria solidão, o próprio desespero. Por isso, a violência física, a invisibilidade, a negação de qualquer forma de poder e de empoderamento, os risos e os chistes, toda execração publica dx monstrx é aceitável. O mocinho sempre terá o direito sagrado de matar x monstrx, livrar a sociedade de ver e conviver com tal decadência e receberá todos os aplausos por isso. X monstrx mata apenas pessoas inocentes, gente "estúpida o suficiente" para se aproximar delx. Monstrxs sempre acabam sozinhxs no fim da estória, seu "grand finale" é sempre a morte violenta ou o esquecimento. Afinal, mocinhos se casam com mocinhas, monstrxs se unem com monstrxs, e assim, cria-se e legitima-se uma divisão em duas castas de pessoas: as desejáveis e as invisíveis/execráveis. Afinal, quem namoraria umx monstrx?

A mesma sociedade ainda vitoriana que é tão lenta em amar é rápida em julgar e condenar. Ouse x monstrx se aproximar da mocinha, mesmo que a mocinha no fundo também seja uma ogra, como no desenho do Shrek (aliás, mais um ótimo exemplo), experimente subverter a ordem natural das coisas, ser amado e ter seu par, sua tampa da panela, e abrirá um portal extra-dimensional sugando todo o universo conhecido para o Reino de Hades. E tente usar de violência para ser visto ou percebido, tente usar de "backlash" para dizer que está vivo e que também tem sentimentos e a mesma sociedade ainda vitoriana acenderá os archotes e sairá pelas ruas com toda meiquice que lhe é peculiar, entoando o clássico "MATEM O MONSTRO!".

Por fim, deixo minha interpretação sobre o motivo do sucesso desse tipo de literatura. O monstro nada mais representa que nossos terrores internos, nossos medos da solidão, da não-aceitação. Representa o estado de perplexidade da sociedade industrial mecanizada, que em pleno século XIX tinha dominado um saber científíco muito avançado ao ponto de transmutar a natureza, mas os seres humanos não haviam aprendido à conviver entre si e viviam os horrores das guerras (talvez o maior exemplo disso na literatura seja a critura invertada por Mary Shelley,no clássico Frankenstein). Essa critica cabe como uma luva aos dias atuais e à questão trans* ou dos gêneros não binários, pós-gêneros, etc... Temos acesso á uma tecnologia nunca vista, capaz de alterar nossos corpos de uma forma nunca antes vista para que possamos ter acesso a um nível de satisfação nunca antes imaginado. Temos hormonioterapias, cirurgias avançadas e em constante desenvolvimento que permitem a redesignação sexo-genital, implantes de silicone, técnicas específicas de fonoaudiologia... mas a mentalidade das pessoas parece nunca alcançar o ritmo vertiginoso da tecnologia. 


Hoje no Brasil os mocinhos estão matando fisicamente umx monstrx por dia, ceifam essas vidas de forma desumana e com requintes de crueldade, simplesmente por não conseguirem conviver com suas anormalidades. Dizimam pessoas que já não têm o acesso aos espaços sociais, aos serviços públicos elementares (educação, segurança, saúde, lazer....), pois a sociedade tem medo de se infectar com suas monstruosidades. Tirando de vez das ruas criaturas que são socialmente rejeitadas, seres-humanos (embora o neguem) que não vivem plenamente suas relações sociais e afetivas, mesmo a sociedade ainda vitoriana "permitindo" suas paupérrimas existências. 

Eis a verdade: a sociedade dos normais não nos ama, não nos respeita, apenas nos tolera, desde que não saiamos mostrando nossa feiúra, nossa anormalidade pelas ruas, que não mexamos com seus sacrossantos privilégios hétero/cisnormativos. E de preferência que não saiamos das jaulas e das correntes.

NOTA: Neste artigo fiz questão de usar linguagem neutra (usando o polêmico "x") para me referir ao gênero/sexo do monstro, para assim demonstrar algo que sempre me chama a atenção neste tipo de literatura: por mais animalesco e distorcido que seja o corpo do monstro, ele sempre estará inserido no modelo dicotômico que dissocia o masculino do feminino e sempre será heterossexual. O maior exemplo disto talvez seja o alienígena da série "Alien", que, mesmo não tendo nenhum traço físico de humanidade, ainda é divido entre machos e fêmeas, com direito à naturalização de construtos socioculturais como "instinto materno".  Seria a necessidade de demonstrar que mesmo os monstros são obrigados a seguir determinadas normas de gênero? E por algum motivo que prefiro deixar em suspenso, aberto para debate, na maioria esmagadora das vezes, o  monstro pertence ao sexo/gênero masculino. 

Sobre a questão da maternidade na ficção científica, faço questão de deixar o belo artigo de minha querida Profª Ana Paula Vosne Martins (UFPR):                                       https://mega.co.nz/#!7RNFATLC!PLcvWHxfxM3W1_ICqzXXKkAO4BRhDqLLvn4FMfVa6xE


Clipe de hoje (o mais óbvio possível):

No closet

Desbundai e putiái!

Você namoraria umx monstrx?

terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Ave Butler! Hail Derrida!

“Não basta conhecer e interpretar o mundo, é preciso transformá-lo”  (Karl Marx)

Este panfleto tem por objetivo desmitificar e responder a algumas objeções acerca dessa tão falada e polêmica teoria, além de defender a importância, ou melhor, a urgência de adotá-lo em nossas lutas cotidianas, feministas e LGBT. Ele é direcionado aqueles que nunca tiveram o acesso ou oportunidade de discuti-lo e foi escrito com a linguagem mais acessível possível. Boa leitura.



O que é Teoria Queer?
Apesar de todo um discurso no sentido de torná-la inacessível, a Teoria Queer é muito fácil de ser compreendida. “Queer” é uma palavra de origem inglesa que pode ter varias traduções em português: “feio”, “esquisito”, “subversivo”, “torto”, “inumano”, “retorcido”, “fora-dos-padrões ”, “monstro”, “abjeto”, “pária”... e no idioma original é o contrário de “straight” (“correto”, “certinho”, “higienizado”, “estabelecido”, “normal”...) que tem sido muito mal traduzido em nossa língua por “heterossexual”, mas no original significa muito mais que isso.
Teoria Queer é mais que uma teorização, uma tática de luta para estas populações minoritárias, baseada no empoderamento e na autoaceitação do caráter subversivo desses grupos. Não é um movimento “burguês” (na prática é exatamente o contrário). Não é um tipo de militância. É um discurso surgido no interior do feminismo, a partir dos anos 90, por autoras como Teresa de Lauretis, que perceberam que os grande modelos de interpretar a realidade acabavam por deixar toda essa gente de fora. Apenas como exemplo, as primeiras autoras a falar na questão das pessoas trans*(1) na nossa sociedade, dar voz à elas, foram exatamente as teóricas “queer”.

ALGUMAS OBJEÇÕES RESPONDIDAS DE FORMA HONESTA:

Objeção I: A Teoria Queer é inacessível ao grande público e não sai da academia:
Correto. A TQ é inacessível ao grande publico, assim como as grandes autoras feministas e as discussões dos clássicos da política. Em geral o bojo de todas as discussões teóricas de qualquer organização fica retido na academia. Não se faz movimento popular sem a academia, alíás a maioria dos movimentos populares surge na academia. E é por isso que precisamos da figura do “intelectual orgânico”, que faz o trabalho de levar esses debates para as bases. Frisamos que a TQ não se propõe a ser um modo explicativo universal e sim, uma critica a esses modelos e às várias formas de exclusão advindas destes.

Objeção II : A TQ não fala sobre a realidade brasileira:
Ótimo argumento. A TQ originariamente diz pouca coisa sobre nossa realidade, pois a maioria de suas autoras, como Judith Butler e Beatriz Preciado não estão inseridas em nossa realidade local. A grande maioria de suas obras não se dirige diretamente à realidade brasileira contemporânea, assim como os grandes clássicos do socialismo científico (só para citar um exemplo) eram dirigidos aos intelectuais e operários do século 19: homens, viris, brancos, cristãos, “straights” e europeus. Todo modelo teórico é igualmente importante para organizar nossas idéias sobre o mundo que nos rodeia, desde que sejam sempre atualizados e adaptados ao nosso contexto. Atualmente, temos algumas autoras trabalhando com esta importante adaptação da TQ em nosso país, como Berenice Bento, Guacira Lopes Louro, Leandro Colling, Richard Miskolci...

Objeção III: A TQ inviabiliza a auto-organização e as lutas específicas:
Este é o mais triste de todos os argumentos. É duplamente perverso, porque ao mesmo tempo em que exclui e nega a existência política dessas populações, nega a possibilidade de fazer reflexões mais aprofundadas, repensar conceitos para organizar de uma forma mais eficiente as militâncias específicas. Basta lembrar que até o fim dos anos 80 e começo dos 90, a questão da homossexualidade e das mulheres eram ainda vistas por várias organizações de esquerda como “um problema secundário, que atrapalha a luta por um Bem Maior”. Muitas destas organizações infelizmente continuam pensando desta maneira até hoje.

Conclusão:
A TQ não é um movimento organizado, não é um modelo explicativo, não é uma identidade (não existe uma pessoa “queer”). É uma teoria surgida no interior do movimento feminista e que não se propõe a romper com ele, é uma critica importante a antigos modelos de interpretar o mundo que, apesar de bem intencionados, acabam por deixar justamente os grupos mais marginalizados de lado. Ao mesmo tempo, demonstra que as teorias precisam se basear na realidade palpável, na observação da existência desses grupos estigmatizados, para melhor entender o mundo a nossa volta e a partir daí podermos transformá-lo. È impossível na atualidade brasileira fazer feminismo e militância LGBT sem dialogar com a Teoria Queer.


(1)trans*: termo criado por militantes transfeministas que designa pessoas transexuais, travestis e transgêneras, assim como o movimento organizado.

 No closet

Desbundai e putiái!
INTRODUÇÃO (ATUALIZADA EM 28/03/2014):

Refaço aqui a guisa de introdução, uma vez que andaram lendo este texto e distorcendo-o para me acusarem de fazer apologia ao estupro (que falta de criatividade, hein?!?...) Pior é lerem, comentarem, achincalharem, e não botarem o devido crédito dx autorx. Plágio é crime, sabiam?! Da próxima vez que me citarem, pelo menos coloquem o link daqui, que eu também quero ficar famosa.

Obrigadx pela preferência, voltem sempre!

às radfems, terfs e feministas formadas lendo 50 Tons de Cinza- ósculos e amplexos!

Divirtam-se lendo o texto completo no seu contexto ORIGINAL:

OBS: vcs também podem me xingar na área específica logo abaixo do texto (na parte escrita "deixe seus comentarios"). Não precisa comentá-lo noutros lugares. Garanto que dará bem mais visibilidade ao seu mimimi... #fikadika ;)

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Ave Butler! Hail Derrida!

Que a vida é em parte um baile de máscaras, com as quais nos seduzimos uns aos outros, e nos enganam os diante do espelho, é sabido. O perigo reside na hor em que a ultima das máscara cair, e tivermos que ver, nos grandes espelhos, um rosto preso ao nosso corpo, mas que parece não ter nada a ver conosco
 (Lya Luft)
Ano de 2013 acabando e tenho muitas coisas a dizer. Essa ano foi bem atípico (alguma ano já foi típico?) aprendi muita coisa e vivenciei cenas bastante intensas, das quais falarei mais adiante. Vou minimamente comentar sobre um fato bastante lastímável, embora de caráter subjetivo (o que não é subjetivo?) e que acabou por me atirar num furacão, numa guerra  interna e contra a sociedade pelo direito ao prazer(ui!) me levando à contestar meu espaço na sociedade pós-moderna, libertinóide e hipócrita na qual vivemos. Não precisarei provar nada, pois não faço acusações formais, ultimamente estou mais apelando pra pancadaria generalizada. Apresentarei apenas a minha versão, a que importa, pois estamos falando de subjetividades, a MINHA subjetividade.

Sempre fui muito mal nas aulas da faculdade e não conseguia entendia o por quê, longe de querer botar a culpa nos outros, pois sou bastante desleixadx e desorganizadx mesmo, até já pedi ajuda junto a instituição com esse meu problema. No primeiro semestre de 2013 percebi que estava sendo vítima de  exclusão por parte dos colegas. Precisava fazer um trabalho em equipe e as vésperas do prazo de entrega, descobri que minha equipe não era miha equipe, mais que excluídx, fui desmentida pelas outras meninas que até entao iriam fazê-lo junto comigo. E pior, a professora, conservadora, pois não aceitava usar em sala meu Nome Social, ainda me mandou "me virar", por que o trabalho valia toda nota do semestre. No final consegui achar outra equipe e fui aprovadx na disciplina, mas o caso já tinha me deixado em posição de defensiva. Já tinha percebido que havia algo de podre no Reino da Dinamarca..

No segundo semestre já comecei totalmente abaladx com a perspectiva que ainda não tinha percebido de estar sendo exclusa do ambiente acadêmico. Inscrevi-em em pouquíssimas disciplinas, das quais acabei por desistir, mesmo gostando do conteúdo e dos professores. Foi aí que houve a reviravolta terrivel que me levou à revolta: como a turma com a qual entrei para a faculdade havia sido praticamente desfeita, além de não me sentir bem naquele meio, então "adotei" outra turma pois estava desperiodizadx e já tinha feito mais disciplinas com esta. Achei que nesta seria bem recebi, até porque haviam vários LGBTs; Pois, para minha surpresa e revolta, haviam organizado um churrasco e sequer me convidaram. Pior, durante o entrevêro, ainda tentar de toda forma me comprovar burocraticamente que eu não pertencia áquela turma.

Podem pensar "mas você fez tanto escândalo por que pessoas não te convidaram pra uma festa?Ignore-as" Errado! Foi absolutamente necessário! Um churrasco, num espaço hipersuxualizado como de uma turma de faculdade nunca é apenas um churrasco. Estou lendo um livro bastante interessante chamado "Politica sexual da Carne" e entendendo como as relações de gênero e sexualidade se dão no  espaço dos comensais de carne. Senti-me coisificads. Senti-me assexualizadx. Senti-me invisibilizads. Foi aí que explodi, numa explosão vulcânica de ira que estava a explodir desde que tinha meus 15 anos, que meu lado mais animal floresceu de forma violenta, que minha fome por sexo e afetividade, por ser vista, ser sentida, ser (re)humanizadx aflorou da forma mais violenta. "Me odeiem, mas não me ignorem..."

Foi nesse momento que me lembrei de que tinha uma arma que chamo e considero, talvez erroneamente como a melhor para me defender desse processo de assexualização, deste anti-bulliyng excludente: o pornoterrorismo. Resolvi denunciar a atitude perguntando via Facebook o por que de tanta transfobia, no que tentaram me rechaçar e atacar, inclusive levando o caso ao coletivo LGBT que ajudei a fundar na Universidade, como seu meus companheiros de luta não fossem tomar minha dores e entender meu sofrimento. Decidi que a hora para romper com as relações de poder que me excluiam havia chegado



Me passou na hora pela cabeça, "o que a Divine (estrela do filme porno-trash Pink Flamingos) faria no meu lugar?" Pois, se pela lógica a negação do desejo é a estratégia do sociedade cis-normativa para nos normatizar, nos desempoderar, nos matar aos poucos, a resposta deveria vir de forma contundente, viva, pornográfica, reempoderadora, auto-reafirmadora de minha sexualidade. Aproveitei um momento em que alguém tinha feito uma alusão à letra da Waleska, "eu vou pro baile sem calcinha", na comunidade da Chopada da História- o Cammasutra (não sei o por quê desse nome por que é um espaço totalmente heteronormativo excludente, chato e elitista) e tasquei o seguinte texto:

"Gente, eu só vou ao CammaSutra se rolar sorteio de boquete (leilão é para fracos e nós temos que dar espaço as classes menos favorecidas) e se tiver área de nudismo/naturismo com mete-mete sem consentimento, sem discriminação, sem compromisso, sem frescura, sem heteronormatividade. Apenas mão na mão, mão naquilo, aquilo naquilo, linguas nas linguas, linguas naquilos. Apenas corpos em busca do prazer. Sem regras, sem proibições, sem discriminações,apenas corpos e prazeres. Nada de poderes,apenas prazeres.
Nem venham pro baile sem calcinha que tirar faz parte do ritual. Imagina baixar levemente a calcionha de vcs, com uma linguinha sedenta roçando na xaninha úmida Gang bang nervoso pra comemorar a vida, sem moralismo e sem regras. Sem apareñcias. Picas duras massageando as cara de homens e mulheres, machões héteros barbudos sendo fodidos emcima do palco, subjulgados pelo próprio desejo proibido a muito reprimido
Amores, estão achando engraçado? Riam e saibam que o riso, bem o sei (eu e Freud) nada mais é que ejaculação incontrolável de vossos recalques, vossas desejos proibidos, o refugo que amam guardar como tesouros.
Só irei se meu gozo for servido junto com champanhe e o liquido inebriante de vossas vaginas estiver sendo sorvido junto aos colarinhos da cerveja. Se irei quando o vulgar estiver liberado e os profetas da liberdade revolucionária estiverem engasgados com a propria moralidade machista. Só irei quando puder assassinar aos poucos matar de prazer e sem ar. Foder é preciso, respirar não é preciso. E tudo sem consentimento, apenas nosso prazer.
Ainda ri? Riremos juntos. Ou verem que ri por ultimo..."

Quebradeira geral. Bomba barulho, confusão. Muita gente não entendeu o que estava rolando. Muita gente achou que meu Manifesto político pelo gozo trans* fosse mera ironia. Descobri que sou "barraQUEERa" (atorón!). Alias, acho que toda pessoa LGBTQWY267P tem o dever moral de ser "barraQUEERx". Teve gente que entrou na brincadeira e pediu pra galera pelo menos levar camisinha, hahahaha... Depois ainda criei a campanha "This is a Xana" para ironizar a camiseta machista do CA que apresenta um barbudão nervoso berrando "This is Sparta!" (reproduzida acima) e que levarei adiante, reproduzindo a figura na minha camiseta.

Mas não falarei agora sobre isso, prefiro aproveitar para falar sobre processos de repressão sexual, de como o espaço acadêmico, entendido como espaço de socialização se utiliza dos desejos para controlar s pessoas.
A coisa mais fácil do mundo é trabalhar com o tema da sexualidade nos espaços acadêmicos sob uma perspectiva antropológica. Basta entrar no seu CA/DA ou numa festa da turma com um bloquinho de anotação e fazer a festa. 10 entre 10 frases ditas pelos universitários brasileiros se refere direta ou indiretamente à sexo e afetivididade, na maioria das vezes de forma colonizadora,  objetificante, pejorativa, heterofascista. Presenciei vários absurdos, desde falas sexistas de gente que queria me impor que conhecia a "essência feminina", até "colecionadores de bucetinhas". Vi meninas recatadas praticamente arromanbando a cuna para os machões revolucionários. Mas se uma pessoa trans* ousar de forma  politicamente agressiva (como reação espontânea a essa norma machista) pedir a bucetinha da mesma garota pelo Facebook, ela logo se torna "estupradorx". Interessante, acusar pessoas trans* e queer de ser estupradorxs parece que virou moda.Engraçado, não por acaso...

Falar sobre sexo nesses espaços tão hipossexualizados é tornar o indivíduo inteligível, humano, digno de existência. E não exagero quando digo falar em vida e morte, pois já demonstrava Titio Freud que o instinto de preservação da espécie acaba falando mais alto. Quando digo isto, me lembro por exemplo do caso de uma menina que se suicidou se jogando do alto do prédio da UFPR em 2012, e que ninguem conhecia. E como absolutamente tudo nessa vida tem alguma ligação com sexo, denuncio: não se pode desejar o que não se pode ver. Esses espaços dividem as pessoas em dois grupos bem distintos: os desejáveis e os toleráveis. Romper com esses padrões, se negar a ser usado como boneco, é literalmente cometer um crime contra o Universo. Por isso nos autoestupraremos uns aos outros.

Ano que vem tem mais luta, pois percebo a importãncia do que faço e a centralidade da sexualidade nas relações e humanas e preciso sobreviver de alguma maneira. Ficar me conformando com guetos como o ENUDS, onde, mesmo "pegando" muita gente só rola coisa superficial não me basta mais. Quero e preciso de holofotes. quero e preciso de poder. Por que não um "esporraço" à la Pink Flamingos nas cadeiras e sofás do CA?  Por que não um ato pornoterrorista no próximo Cammasutra? Se já consegui tudo isso me expressando só por escrito, imagino quando assumir uma posição ainda mais paupável e radical. O que não pode é deixar-se sucumbir à hipocrisia e à hetero/cisnormatividade.

"Amanhã será maior!"

"Just Can't Help It! Girl Can Help It!"


"Me amem, me odeiem, mas nunca me ignorem"
"Eu sou passiva, mas meto bala"
"Bucetiiinhaaaa!!!"

Em 2014 tem mais.


Desbundai e putiái!

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