Newest Post

Archive for 2012

Ave Butler! Hail Mott!

Post dedicado à minha amigona, Bárbara Trelha, pela sensibilidade e pelo texto maravilhoso. Presentaço!
Ao Rodrigo Reduzino (beeeeeeeeshaaaaa!!!), pela oportunidade de fazer essa doideira.
E à Thales Ornellas, por ficar me torrando o saco astral pra escrever sobre isso.

"Quem disse que temos que ter vergonha de nossos corpos?!?


O post de hoje é bastante especial. Vou apresentar aqui minha inesquecível participação no X Enuds (espero que tenha sido tão bom quanto foi pra vcs, fffff). desta vez resolvi tomar coragem e fazer uma performance, minha primeira, denunciando a transfobia, o cissexismo, e o processo de total desumanização ao qul se submentem as pessoas trans numa sociedade cissexsta. A apresentação vinha sendo gestada à vários anos, fruto de uma série inumerável de pequenas agulhadas, pessoas que, muitas vezes por ignorância, desinformação ou por pura maldade, insistem em catogorizar pessoas pela genitália. Gente covarde que não consegue assumir seus desejos e sequer para pra pensar que também sonhamos. E que somos, enquanto *TRANSgressorxs, violentadxs em nossos direitos mais íntimos e punidxs com o desprezo e a "perplexidade estratégica", muitas vezes por pessoas que se dizem e se acham "libertárias".
Consistiu na declamação de um poema biográfico, escrito pela minha amiga, cantora e poeta, Bárbara Trelha, e baseado em partes do meu cotidiano. Na verdade, como não tinha acesso ao texto orginal, acabei fazendo uma adaptação livre, colocando coisas que sent de dizer na hora. E acabei jogando o papel com o texto fora. Nada melhor que o orginal:


SANTO OLHAR DE HORROR
Os meus seios inventados por mim mesma não satisfaziam a vontade alheia de não permitirem EU parecer mulher.
Travesti filho da puta! Projeto de gente de merda, bichona esquizita! Coisa ruim! Filhote de cruz credo,’benza Deus’!Meu caralho! Os seios que eu não tinha não me traduziam feminina como eu quisera. Dulci, é o nome da coisinha? Dulcinéia de Quixote?! Há há há... grande bisca, isso sim. Isso é falta de pegar num cabo de inchada.
Os discretos seios produzidos pelos hormônios que eu bebo não dão conta do meu EU tão mulher.
Que nojo. Horror...que horror...
EU não nasci com seios. Não nasci prá ter lisas pernas, não nasci com predisposição prá uma cintura desenhada. Minha coluna com o tempo curvou-se, fruto do peso de carregar-me mulher num gene y que ganhei ainda no ventre de minha mãe inserido delicadamente pelo sêmen do meu pai.
Agora, EU: Ser híbrido prá sociedade faminta de paus e bocetas. Ser endemoniado prá sociedade de padres e igrejas sedentos de paus e bocetas. EU. Com pau. Sem boceta. Aparelhado por Deus, com pênis. Nem homem nem mulher: Trans-sexual. Sem cor, sem amor, à margem da gente toda que não grita mas me olha barulhenta:
Travesti filho da puta projeto de gente de merda bichona asquerosa filhote de cruz credo benza deus meu caralho isso é falta de pegar no cabo de uma inchada que nojo que horror que nojo que horror que horror que horror
Não sou nem homem nem mulher. Trans. Sem cor. transgênica.nem soja nem carne bovina.origem não vegetal. Só EU. EU na gente toda que quando sente nojo não sabe que também é um pouco do meu horror.
Meu pau não é seio. Entendo sobre o processo antropológico do homem em definir-se como gênero e padecer na definição. Minha alma não goza. -O mundo é porco. Eu também me apaixono. Sinto saudades da minha mãe, do cafuné da minha amiga Bárbara e de suas crianças me arrumando o cabelo sem ligar prá minha forma, minha falta de cor. -O mundo é porco. Não dou o cu. Deus sutilmente não aparelhou-me para receber. Não dou o cu, já que também não me dão nada além de um constante e santo “olhar de amor”. (Bárbara Trelha)


Tudo acabou ocorrendo muito de improviso, mas coloquei meu coração na intervenção. Na verdade, perdi as contas de quantas vezes desisti e des-desisti de fazê-la até que foi... no embalo da dor e da necessidade de por pra fora o sofrimento que me excruciava.
Pois bem, o evento acabou de novo. "Fiquei" e beijei muito. Foram 16 pessoas bacanas (eu contei). 16 vidas e mundos com os quais entrei em contato. 16 pessoas que provavelmente jamais verei de novo. Como me disse uma delas, antes do adeus, "vou por que o amor é livre". Concordo, mas as vezes, queremos mais. Alguma pessoas queremos levar pra casa
 O nariz de palhaço que usei no palco da UFRRJ, no dia da perfomance era o mesmo que usava em festas "cis" quando sentia que seria invisível, ou no maximo motivo de chacota. Era o mesmo que vestia para protestar nas ruas e nos bares, quando se viam no direito de dar risada de longe.

As vezes o respeito e a admiração não são suficientes...

Hoje, passados quanse um mês, tento recordar de cada voz, de cada sorriso, de cada boca que beijei. desta vez não tirei fotos- e acho que fiz bem. Mas continua o vazio no meu quarto e no meu peito. Persistem as visões sobre sonhos antigos que nunca se realizarão. Continua a saudade de uma companheira de anos que deixei em Curitiba, pra vir ao Rio atrás de uma paixão cada vez mais ilusória, e cujo nome não posso falar por que ainda não está "preparada" para me aceitar do jeito que sou, ou decidi ser, as minhas subversões.

Xs outrxs não se vêem "preparadxs" e nós é que sofremos a solidão de termos alçado vôo longe demais. Tirei o nariz de palhaço e ficou para trás, junto cOm alguns sonhos e com parte de miNha inocência naquEle palco. Perdi minha virgindade. Mas aceitei, passivx como sempre, os aplausos.

*A seguir um compacto da Mesa 2:Corpo político e subjetividade com um pedacinho da minha participação. filmado por Dudu Moreira. Desfrutem:
 No closet

Desbundai e putiái!
Vão tomar no cu!

 Eis que posts antigos começam a retornar do fundo do baú revolucionário. A presente havia postado no blog Além da Parada (no qual eu fazia o papel da virgem queer, hehehehe) Curtam, sem presenvativos;)
Seres anais de todo mundo, uni-vos!

*Frase do francés Guy Hocquengheim (1993)A força transgressora desta afirmativa parece se dever ao fato de que, no seu bojo, traz algo bastante inquietador, uma vez que desloca uma característica política, a revolução, para um outro lugar, ou seja, para um órgão fisiológico, próprio de descarga. Porém, de grande significância erótica, bem como da representação em que se inscreve a conduta do macho. Não que essa parte terminal do intestino por si só seja revolucionária, mas porque exerce a função de divisor de identidades na construção da masculinidade, que fez eco com as falas dos michês jovens - cuja virgindade do ânus e o beijo na boca parecem ser preservados a todo custo.

O padrão tradicional que tipifica a "essência" masculina não admite incertezas, na melhor das hipóteses, a incerteza e desconforto; na pior, um potencial de perigo. Não obstante, produzir confusão e sustentar alguma dúvida pode significar pôr sob suspeita a orientação heterossexual masculina (Giffin e Cavalcanti apud Seffner, 2003).


"Se descubro que um de meus jogadores é gay, eu rapidamente me livro dele" (Luiz Felipe Scolari)

O ânus é um órgão que, para o heterossexual, deve ter unicamente a função excretória, e que, junto à vigilância de não se efeminar, compõe as obrigações fundantes do masculino. Desde tenra idade, são estas pré-condições que fazem o menino, na sua identidade de gênero, perceber-se diferente e superior ao homossexual "passivo" e a mulher. Tomando por base estas ilustrações, pode-se deduzir que o homossexual "passivo" é aquele sujeito que subverte essa ordem, e elege o ânus, além da sua função fisiológica, como fonte de erotismo e gozo sexual. E, ainda fere um outro princípio masculino, por não apresentar atributos masculinos e desejo sexual pelo sexo oposto, que enfatizam o homem viril. Do contrário, ele manifesta trejeitos e maneirismos que são típicos do feminino, ou seja, ele se efemina.

Talvez, a questão da virgindade anal associada à masculinidade seja um tabu mundial. No entanto, parece mais acentuado nos países de cultura machista a exemplo do Brasil.


A pós-modernidade é tipicamente a cultura da emancipação individual estendida a todas as idades e sexo (Lipovetsky, 2005), Todavia, esta mudança liberal ainda suscita o arcaico, a exemplo do uso do ânus como órgão sexual de prazer que, para o homem, está vetado, uma vez que essa modalidade erógena e sexual está fortemente vinculada à conduta homossexual, no caso, "passiva", e a visibilidade do estigma, ambos socialmente condenados. O homem para ser macho tem que, no uso do seu corpo, recorrer unicamente ao seu pênis como instrumento e meio de prazer, para que não deslize para a sexualidade do "diferente".

Para Deleuze (2004), os interesses somente serão revolucionários, quando desejo e máquina não se tornarem únicos, e se voltarem contra os chamados dados naturais da sociedade capitalista. Com base nesse autor, pode se pensar em que o comportamento homossexual assumido ou com "visibilidade do estigma" concretiza-se como um tipo específico de revolução. Uma vez que esse indivíduo pode negar essa condição ou passar incólume com a "fachada" de heterossexual. Não é uma atitude anárquica desnudar o próprio desejo proibido perante "olhar público", contrariando as vertentes biológica, social, cultural e outras, com todos os riscos em que isto implica? Nesse sentido, certamente, não se constitui numa tarefa fácil renunciar a uma representação de si com qualidades extraordinárias e promessas grandiosas que, durante anos, lhes serviram de modelo (Nolasco, 1986)."

Eis um bom resumo do artigo intitulado "A visibilidade do suposto passivo: uma atitude revolucionária do homossexual masculino" de Valdeci Gonçalves da Silva, Professor Titular do Departamento de Psicologia da UEPB.

Disponivel em sua íntegra em:http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000100006

A palavra CU monossilabico escatológico incomoda muitos LGBT que preferem sustentar em princÍpios de rechaços do comportamento passional do gay ou o silêncio pelo incomodo de citar uma área erógena que não lhe é permitido ao prazer, tabulizando e contribuíndo a opressão da sexualidade humana, ou será como um exame de próstata, algo que ocorre mais jamais divulgado.

Alias,

Que olho é esse?

Em 1973, o compositor Tom Zé lançou pela gravadora Continental o LP "Todos os Olhos".


A capa está reproduzida ao lado, e por muito tempo trazia um enigma: que olho era esse?


Segundo o próprio Tom Zé ninguém nunca chegou a descobrir do que se tratava, até que ele mesmo resolveu contar e solucionar o enigma.


Para contextualizar melhor, deve-se lembrar que a época era de plena ditadura militar no Brasil e que várias músicas dele já haviam sido censuradas.


Seu amigo, o poeta Décio Pignatari, propôs:
"Vamos sacanear estes caras... Por que não colocamos um cu na capa?".

Tom Zé com certa relutância falou:
"Tá maluco, como vamos fazer isso, vamos ser presos!"

Depois de descobrir a maneira como seria feito, topou.

Décio então, arrumou a "modelo", colocou uma bola de gude "lá" e fotografou em foco fechado.

O resultado foi exposto nas vitrines das lojas e a censura nem imaginou do que se tratava.
Lembrem que nesta época não havia os recursos de computador que temos hoje... portanto...
A FOTO é VERÍDICA!!!

*(com a colaboração de Fukumaru, da comunidade Racismo e Homofobia Nunca, do Orkut) 

No closet

Desbundai e putiái!
Saudações aos caros leitores deste blog,

Venho através do pressnte artigo denunciar os atos imorais que vêm ocorrendo no longinqua UNESP de Araraquara. Pelo material que a mim me fora confiado, parece que um grupo de estudantes daquela nobre instituição andaram cometendo libidinices em plena Moradi Estudantil, atrapalhando o sono e atividades acadêmicas dos estudantes colegas (aqueles que vão à Universidade para ES-TU-DAR). Abaixo, transcreve-se a Carta de Defesa dos acusados. A Carta de Acusação foi-nos perdida, e a versão oficial dos heróis defensores da moralidade brasileira provavelmente não nos será  Notem a impudência e o vocabulário chulo dos bacantes:

Na moradia, o que aconteceu foi o seguinte,durante as férias os blocos(as casas) O e P, tiveram que passar por uma reforma,e enquanto esta reforma não saiu,tivemos que dormir no chão com os colchões, em outros blocos,algumas pessoas conseguiram camas,mas esse não foi o meu caso.

Enfim,no dia 10 de Agosto, recebemos as chaves,pois a reforma havia terminado.Alguns antigos moradores voltaram, e trouxeram pessoas de outros blocos pra morarem junto,já que outros antigos moradores conseguiram se instalar permanentemente em outras casas. Essas pessoas, foram fazer a limpeza dos quartos para depois ocupa-los,inclusive a Jó, que está sendo sindicada também(no total são seis pessoas sofrendo o processo) fazia parte desta galera que estava fazendo a limpeza e é valido ressaltar que foi ela que limpou boa parte da casa.Pois bem,acabaram vindo pessoas que não iriam morar nas casas e compramos bebidas e ficamos na sala.E o som de vinil também estava ligado.Conversa vai,bebida vem, neste meio tempo a galera da faxina do Ó já tinha ido embora, ficando somente a Jô.Acabamos ficando pelados,todo mundo se beijando , e rolou sexo na sala, com as pessoas que estavam na "festinha".Teve um casal que resolver ir para o quarto pra transarem a dois, ai a galera estava socializando o role e todos tiveram a ideia de ir no quarto onde eles estavam,o casal havia entrado no  Ó, em um quarto aleatório que não havia sido ocupado de fato,havia só uma mala, de uma das pessoas -a mala sobreviveu a nossos atos profanos.

Como todos sabem, depois que um disco de Vinil acaba, tem que virá-lo, pra continuar,mas como ninguém mais estava na sala, o som acabou neste momento.E o sexo se procedeu no quarto .Quando chegou duas pessoas R2 e R1,com cara de indignados ,perguntando o que estava acontecendo, e eu chamei eles para participar-quanta heresia- eles acabaram  ficaram bravos e disseram que estávamos incomodando o pessoal da casa de cima com o barulho-acho que os gemidos estavam acima de dez decibéis srs .fechamos a porta e a porta foi chutada e depois eles retornaram mandando grosseiramente  sairmos do quarto,saímos do quarto e fomos para o do lado que seria o quarto da Jó quando ela o ocupassem. Rolou uma discussão depois(acredito que daqui tenha vindo o barulho que algumas pessoas reclamaram,estávamos todos de ambas as partes  exaltados,e eu indignada) .E uma terceira pessoa aleatória,autor da carta,que havia sido chamado pelos dois, apareceu e disse que "estávamos de sacanagem com a cara dela".Resolvemos então ir para o bloco Q, e terminamos nossa noite prazerosa -as arvores do bosque que temos da qual as janelas da casa são voltadas, não reclamara dos gemidos.

No dia seguinte, veio a surpresa, M. (o aleatório, dono da mala e autor da carta),R1. ,R2. e mais absurdo ainda D.,escreveram uma carta,protocolaram e foi parar nas mãos da direção.Até este momento, a critica que gerou em relação a essa carta( para nós sem fundamento e completamente moralista) foi que ela ,acabava com um árduo processo de autonomia que estava e esta se construindo na moradia. Após muitos anos sem comissão, uma foi formada,e levar desentendimentos como esse pra fora da moradia, sem ser discutido internamente , retira autonomia e nos coloca como incapazes de resolver problemas interno.Foi consenso que a carta era um erro e que inclusive M. e R1, disseram que anulariam a carta, mas que disseram que teríamos que conversar com o R2, que não apareceu na assembleia ,e disse que só faria uma conversa com os envolvidos ,caso tivesse o presidente da comissão - um professor da graduação de economia, que não tem mais nada pra fazer da vida e pode sim,fazer reuniões como essa- discordamos,pois essa feria a tão sonhada autonomia .

Está carta deixou de ser nossa preocupação, queríamos era resolver a reeleição de uma nova comissão, que a direção queria, para estar de acordo com o regimento.E ontem , dia 17/09, chegou a carta do processo de sindicância. No qual a direção , devido uma carta ( de três alunos, em uma moradia de 100 pessoas) está  disposta apurar o ocorrido:
"Fica instaurado o Processo de sindicância com a finalidade de apurar procedimentos irregulares dos discentes fulano, sicrano..que na noite de 10 de AGOSTO de 2012, efetuaram barulho,ingeriram bebida alcoólica no interior da moradia estudantil , praticaram ato obsceno e sexual em grupo perante as pessoas." [vulgo orgia, no linguajar popular viu gente]
E mais uma ultima coisa, M. e R1, não moram mais aqui, apenas o R2 e o D., que até ontem não sabíamos que tinha assinado a carta,Houve também a alegação de ocupação proposital da casa Ó.A sala foi limpada pelos promíscuos no dia seguinte,nenhum dos que denunciaram tiveram que fazer isso, e desistiram de morar no O. E só fomos ter acesso a carta que eles escreveram, ontem,pois até então não sabias o que tinha na carta.Sexo,festa e bebida alcoólica, sempre aconteceu nas moradias, se a moda pega, não sobra um.E fizemos palavras de ordem sim:" Sexo sim, moralismo não"

Sobre o R1:

Depois dessa carta ter vindo a tona, ficamos sabendo de problemas em relação ao R1 que é machista e homofóbico,  porque chama as meninas da sua casa de vagabunda por levarem pessoas com as quais estão ficando.E quando deixa bilhetes a um rapaz da casa em que mora, que é gay, coloca prezada ao invés de prezado, e fala mal dele por ele já ter levado rapazes na casa.Todos querem que ele saia, mais ele se recusa a sair.Sobre os comportamentos absurdos do R1, eu fiquei sabendo recentemente, e o pessoal do bloco disse que está disposto a levantar essas questões sobre ele na Assembleia que será realizada nesta próxima carta do dia 19/09

Enfim, é isso, posso ter me esquecido de algo,caso o tenha, complemento depois.Mas o bom é que o pessoal da faculdade não apoia a atitude destas três pessoas que não tem sequer apoio dos moradores, a assembleia anterior já mostrou isso.
Notem só o abuso do texto, os autores chegam a caçoar da nobre instituição. Não a toa que estão sendo indiciados por "perturbação do trabalho e do sossego alheios". nada mais justo, afinal é muito dificil estudar ou dormir com um "ronki-ronki" dos infernos no seu lado. Tudo isso é coisa desse maldito PT e de sua lider meretriz, abortista e cumunista que ora se assenta no trono do Palacio do Planalto. É preciso expurgar tal corja de nossa pátria, antes que seja tarde. Inicia-se com a deterioraçao de nossos costumes no espaço acadêmico de nível superior e, muito em breve, estaremos estimulando as criancinhas em idade pré-escolar na arte da felação
.
 Da proxima vez que forem fazer orgias, façam-nas no recônditos de vossas casas, ou em locais privados dedicados a tais fins (vulgo "moteís") caros universitários!

Não desmoralizem nossas familias!

(Indignações)
ADENDOS IMPORTANTES: Primeiro, ao me retratr aqui, não faça nada mais que minha obrigação, enquanto ser humano. Segundo, trata-se de uma questão de bom senso, não quero que meu textos sejm lidos como apologia a qualquer forma de opressão, assim como não aceto piadinhas com cis-sexismo e transfobia. Temos que tratar os outros da mesma forma como gostarísmos de ser tratadxs
“A palavra que reténs entre os lábios, é tua escrava; a que soltas irrefletidamente é teu senhor.”

“As palavras não proferidas são flores do silêncio.”

(Ditados populares)

"Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo"
(Sérgio Vaz)

Ola, caros leitores do blog Covil da Medusa.

O "post de hoje será muito especial e tem para mim um caráter histórico. Quando decidi começar a escrever, a idéia principal era criar um "Diário Trans Alternativo", que falasse sobre meus amores, meus embates políticos, minha aventuras.

Pensei muito em encerrar meu blog neste mesmo 'post', mas decidi ao menos dar um bom tempo nas atualizações. Pelo menos até recobrar minha conciência, me reequilibrar.

Pela primeira vez desde que trabalho atualizando blogs, consegui um site que realmente rendeu bons frutos na minha vida particular. Atualizar este espaço deu-me uma possibilidade imensa de expor meus pontos-de-vista, ler o posicionamento sobre temas polêmicos, desenvolver alguma capacidade argumentativa.
Porém o Covil as vezes me parece que já deu o que tinha que dar. O espaço que fora criado a priori para possiblitar discussões pacíficas, uma confraternização de ideias, acabou por perder este sentido.

Hoje, atualiza-lo me parece um grande peso desnecessário.Os ultimos três textos, "Carta  aberta a uma giganta", "É sexy ser machista" e "Teoria do Sexo Obrigatório" foram certamente minhas melhores realizações como blogueira até aqui. mas foram muito mais do que isto. Escrevê-los foi, além de um grande prazer, uma possibilidade unica e imperdível de promover um saneamento, uma catarse nos meus sentimentos mais profundos. Neles foram colocados pelos menos 15 anos de opressão, de incompreeensão, de  depressões e inconformismo, de choros que fora obrigadx a guardar.

 O presente blog não está mais dando conta de realizar aquilo que se propôs desde o início, fazer as pessoas pensarem além do senso-comum, mas ao contrário passou a ser perigosamente desrespeitoso. estou me referindo ao ultimo e polêmico texto, que optei por deletar e explicarei a justíssima razão a seguir. Tratava-se de um artigo criticando a ideia de consentimento nas sociedade contemporânea, que a priori me pareceu bem inocente. Na verdade, o objetivo era fazer resposta a um discurso que parece deveras errôneo sobre a sexualidade, a idéia de que a monogamia e relações "romanticas" seriam opressoras. Discordo veementemente desta teoria e aproveitei pra desabafar sobre a dificuldade de certas pessoas (eu inclusive) de encontrar um parceiro, alegando que a culpa pelo sofrimento destas pessoas seria o direito de serem escolhidas como carne num açougue.

Pois bem, muitos gostaram e "curtiram" no Facebook, algumas pessoas entenderam a proposta e o argumento, me deram parabéns, mas percebi que, apesar de ter conseguido expressar minha revolta com boa argumentação, algo não se enquadrava, o texto acabou por não me trazer a satisfação que esperava ao terminar  "uma grande obra". O fato é que algumas pessoas acusaram-me de fazer atravez daquele texto uma espécie de Apologia do Estupro. è óbvio que tal acusação não tem cabimento,mas pus-me a pensar: "se  uma pessoa diz estar sendo oprimidx pelo texto, então ela tem o direito de se colocar assim e ser respeitadx como tal".

Eu sei muito bem o que são traumas, e imagino, apesar de nunca ter sido estupradx, o tamanho das marcas e cicatrizes que isto causa. Tenho meus traumas também, talvez não da mesma intensidade, mas aprendi com a vida e a militância que a dor mais profunda é aquela que dói na gente. Minha infãncia fora marcada por uma grande inadequação, me lembro bem de ser uma criança solitária e que grande parte da minha pré-adolescencia minha melhor amiga era uma arvore velha na qual subia todos os dias ao pôr-do-sol para ver as crianças "normais" brincando na rua. Minha adolescêcia fora marcada por muita violência fisica. Lembro-me que em certos periodos eu costumava apanhar dos valentões do colégio todos os dias, enquanto as meninas "cis" davam risada da minha cara e depois saiam de mão dadas com os mesmos valentõess, enquanto os professores ficavam me "protegendo" e mimando para que fugisse das surras, na verdade me infantilizando e estigmatizando ainda mais. Nada como sentir na pele...

Hoje sou universitarix, acho que descobri a causa da minha inadequação, Bicho-Papão que "comeu" minha infancia e minha adolescência, descobri o por quê de me baterem tanto. Até hoje tenho sérias marcas físicas, desvios de coluna "cervicais", devido ao habito de andar olhando para baixo, com medo de encarar as pessoas e levar mais um chute. Hoje sinto-me sozinhx, com companheirxs maravilhosxs que não me entendem por que vim ao mundo sem um Manual de Instruções. Não compreendem que não há nada de errado comigo, mas sim com a sociedade que nos cerca. Que os pontapés que levamos pela vida são uma tentativa de jogar o lixo criado por esta mesma sociedade pra debaixo do tapete. Hoje provavelmente os algozes que destruíram minha infância estão ricos, têm suas companheiras e estão felizes com sua vidinha insossa. E eu tenho apenas esperanças, desejos nunca realizados e saudades da minha Arvore Companheira, um refugio que na minha imaginação se transfomava numa nave espacial que poderia me levar para uma galaxia muito distante, onde teria um Sabre de Luz igual ao dos Cavaleiros Jedi para me proteger dos trogloditas que não se cansavam de me assediar. As vezes me pego imaginando se minha nave já fora arrancada do chão, junto com meus sonhos perdidos.

Pois bem, sei o que são traumas, e justamente por isso, resolvi abrir mão daquele texto tão bem escrito, mas que poderia vir a causar muita dor às outras pessoas. Entendo agora que um material daquele, lido por algúem que sofra no cotidiano com lembranças violentas do passado pode lê-lo mesmo como um incentivo ao suicidio. Não quero ser x [Ir]reponsável por "ajudar" pessoas que sofreram no passado a acessar suas lembranças traumáticas e dar um tiro na própria cabeça. Por isso, resolvi deixar de ser egoísta e vitimista e abri  mão de um discurso sobre minha dor, um texto que falava sobre a dor humana da rejeição que para algumas pessoas (coincidentemente os que estão por baixo da Pirâmide da Respeitabilidade) é mais frequente e dolorosa. Uma dor que como qualquer outra não pode ser meramente naturalizada. Era pra ser um texto "queer" e "libertário"-dentro dos meus conceitos- mas se tornou para mim, uma dor-de-cabeça.

Cresci muito desde que comecei a postar aqui. Estou aprendendo a lidar melhor com meus desejos e sentimentos, a me relacionar melhor com os outros, descobrindo novas maneiras de amar. E isto sinto ao reler cada postagem, cada argumento.

Mas desejo do fundo do coração vir a publico pedir perdão caso alguém tenha se sentido lesado por meus textos, especialmente aquele sobre consentimento, que já foi devidamente deletado como forma de "reduzir possiveis futuros danos a terceiros", e o tonarei disponível apenas por -e-mail (basta me pedirem, ok?). Perdoem-me se fui irresponsável e infeliz, sei  e aprendi na pele que com a dor dos outros não se brinca.

Obrigadx pela atenção e pela paciência

No closet

Desbundai e putiái!

Mea Maxima Culpa- "War is Over"

terça-feira, 18 de setembro de 2012
Ave Butler! Hail Mott!

"Na multiplicidade do libertário habita a multiplicidade do romântico. O problema é que no mundo e no fundo nos acostumamos ao binarismo:ou romântica ou libertária" (Fátima Lima)

Saudações lupinas e lúdicas!

Em primeiro lugar peço-te desculpas por escrever este texto na meu próprio idioma, mas minha proficiência no espanhol é deveras restrita.Creio ser conveniente me apresentar. Meu nome “de guerra” é Erzulie Medusa Byron. Erzulie em homenagem á deusa vodu e como símbolo de ruptura com a cultura judaico-cristã.  Medusa para representar meu apreço, infelizmente  cada dia mais desgastado, com a luta feminista: o monstro mitológico que petrifica os homens, o símbolo perfeito da Ira feminina . E por fim, Byron, em alusão ao famoso poeta e a indicar meu comprometimento com a sensibilidade e o respeito ao sentimento e os desejos alheios. Como podes perceber, uma mesma pessoa, dotada de inúmeras  qualidades.
Ainda não tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, ou o “desprazer” como as vezes gostaria de sentir, o que seria uma mentira. Como se diz na minha terra, por algum motivo “meu santo bateu com o teu”, ao ver por videos as tuas performances. Sou militante transgênerx e assim como a colega venho trabalhando nos espaços políticos com o debate Queer.

Não faço Política Queer por esporte ou por que acho bonito e contestador , mas sim por que a sociedade hétero-capitalista me obriga a tal. Enquanto os coletivos cis-gêneros como o teu insistem que “estamos engatinhando neste debate”, nós, a chamada militância TTT, estamos correndo, aliás, nadando, em subversões de gênero. Como diz uma amiga minha e igualmente lutadora, a conhecidíssima Maitê Schneider, “quando atravessamos a rua para comprar pão, já estamos militando”.

Lamento e me entristeço ao perceber que a Queer Theory tem limitado seu alcance a poucos espaços acadêmicos e pequenos coletivos de cultura alternativa. Nada contra a chamada cultura underground, a qual apoio e com a qual me identifico profundamente, mas não se pode limitar o acesso a um debate tão importante a pequenos grupos de iluminados. De fato, tais discursos têm se incorporado estratégicamente a grupos anarco-punks, como forma de contestar a lógica dominante, assim como o sentimentalismo têm sido usado como arma há décadas por emos, pós-punks e góticos (ao menos os mais clássicos),  contra a mesma burguesia mecanizada. Mas falaremos sobre isso mais adiante.

 Aqui, trata-se de defender que os discursos sobre a relativização/subversão do gênero devem alcançar igualmente a velha senhora ouvindo guarânia em seu radinho de pilha, em sua cadeira de balanço, imaginando de sua velha choupana em algum lugar no interior da Argentina,  o por quê de sua vida sexual ter sido sempre uma desgraça. Deve atingir o garoto pobre e raquítico que não sabe o porquê de apanhar todos os dias na escola de seus colegas grandalhões, mas que descobrirá que sua performance não está de acordo com o esperado pela sociedade cissexista, e que era esse o seu único crime.
(Este exemplo me é muito caro, por ser autobiográfico)

A Teoria Queer consiste em recolher o refugo social da comunidade e transformá-la em música, atirando-a em forma de critica a sociedade que o criou. Tal processo nós, os pejorativamente chamados “românticos” inventamos, ainda no século XIX. Multitudes, desválidos, deformados, tatuados, revolucionários, libertários, boêmios, mulheres, trabalhadores, lúmpen (enquanto massas e classe perigosas) são criações da geração hugoana. 

Pois bem,  venho a publico dar resposta a um artigo que encontrei em teu blog, intitulado “A Éticado Desejo Libertário”(2) (AQUI DISPONIVEL). Minha principal qualidade é a franqueza e a honestidade exacerbadas. Sempre digo o que penso, da forma mais educada possível ( não ser quando estou apaixonadx,pois ai as pernas ficam bambas e gaguejo muito). Admito que cheguei a ensaiar um artigo bem maroto e escrachado para apresentar aqui, mas percebi que não conseguiria defender um estilo de vida baseado na gentileza, sendo descortês. O debate deve ser encarado com toda seriedade e maturidade que merece e para isto cá estou.
Penso que podemos passar por cima de algumas supostas contradições no teu texto. Por exemplo, não entendi por que nos acusa (os românticos) de promovermos uma cultura do sofrimento e paradoxalmente, com toda razão  ao meu ver, destece uma critica à ditadura da felicidade.

Vamos direto a raiz do problema: o tal artigo é repleto de argumentos ad hominen, de acusações infundadas e levianas. De nada adianta chamar-nos de “doentes sociais” nos acusando de um “vicio burguês” como diziam os marxistas, se a sociedade hétero-burguesa, “tão nossa amiga”, se utiliza do mesmo vocabulário para nos estigmatizar,  medicalizar, dopar, para nos recolher a grupos de apoio psicossocial, ao exemplo do MADA(2)no Brasil. Se estamos a serviço da burguesia, poderiam por obséquio alertá-la? Pois continua nos perseguindo ferozmente mesmo passados vários séculos.  Podemos passar por cima também do psicologismo e das teorias anti-sentimentalóides encomendadas pela burguesia, o afã de definir, via-patologização, como devemos nos relacionar com nossxs amantes?Gracias.

Nós tendemos a entender que o tal Desejo Libertário e não o Amor Romântico é capitalista por excelência, por que reafirma, através de sofisticados processos de reconceituação e engenharia lingüística, as mesmíssimas relações de poder  engendradas pela burguesia neo-liberal, que lucra com a superficialidade das relações afetivas e familiares, conforme já apontado por Zygmunt Baumann. E, se as “virtudes burguesas” ficam de fora do sistema de empoderamento do desejo,apenas são estratégicamente trocadas por outras mais “libertárias”. “Sexo é poder” e sempre será.

Sim, a tal acusação é uma via de mão dupla. A recíproca infelizmente é verdadeira. Parece que o Desejo Libertário na pratica é tão opressor quanto o Amor Romântico. Só depende de que lado da gangorra você está.

NÃO pregamos a monogamia, apenas não a reprimimos e censuramos, justamente por acreditar que todas as formas de amar são igualmente válidas. E aplaudiremos caso alguém decida por espontânea vontade se manter fiel a uma única pessoa, como fazem os lobos solitários. Afinal, fidelidade aos próprios princípios é uma virtude muito rara em nossos dias.   NÃO defendemos a família nuclear, até por que na prática ela não existe mais. Só não impomos o ideário da troca de laços familiares, cada vez mais ralos, por uma matilha ou uma manada. Confrontamos violentamente o machismo, rompemos na prática as barreiras do gênero,  pois nossos companheiros são incentivados a expor seus sentimentos, numa sociedade sexista que insiste no dogma patriarcal segundo o qual “meninos não choram”. E os autores que a colega apresenta em seu texto para nos caluniar NÂO são românticos, são bregas.

O que mais me preocupa no teu discurso é o uso de insinuações de caráter moral. Falas que idiotizam e infantilizam o outro estão presentes em discursos de ódio e inferiorização. Não convêm pôr em duvida a ética do interlocutor  numa disputa e DE MODO ALGUM  estamos de lados opostos na militância.O capitalismo sempre tirou vantagem deste tipo de discurso de segregação e o está pondo em prática mais uma vez. É uma armadilha na qual todxs insistimos em continuar caindo! Estão pondo em nossas mentes uma falsa dicotomia “anarquistas libertárixs trogloditas versus libertinxs românticxs bobalhões” e estamos caindo como idiotas. E errando, desrespeitando de ambos os lados, nossos aliados e companheiros em potencial.

E aqui faço um desabafo: sinto que estou perdendo aos poucos a amizade de pessoas que por algum motivo se tornaram bastante importantes para mim, grande parte delas membros do teu Coletivo, devido meramente a esta estupidez, esta nossa miopia política. Não convém a pessoas que se reivindicam libertárias e contra qualquer tipo de opressão, permitir que amigos se separem meramente por discordarem. Isto não é libertário, tampouco romântico. É segregação. A mais pura babaquice. Radicalismos invariavelmente descambam em autoritarismos. Separam pessoas. Engessam idéias.  São chatos e brochantes.

Lúdicos chamam-nos de opressores e idealistas. Românticos acusam os libertários de serem insensíveis,  autoritários e niilistas. No fundo queremos todxs uma mesma coisa, não importa que nome/conceito demos a ela. Não importa se cultuamos alguma espécie de sentimentalismo, ou se preferimos algo menos “meloso”, menos idealizado. Enquanto seres humanos, necessitamos de amizade, respeito, carinho, afeto, tesão, fantasias. E somos todxs igualmente dignos da felicidade. Felicidade, alíás, que não é um fim, mas um principio e um meio, um triste caminho que nos vemos na obrigação de ajudar a florescer.

Temos falado efusivamente  sobre uma mesma coisa, com vocabulários diferentes e de diversos lugares de fala. E compreender isso é requisito sine qua non para nossa vitória politica. Sem romantismo, não há libertarianismo(e vice-versa). Sem paixão, não há revolução.

Nosso inimigo em comum é a burguesia mecanizada que poda nossos sonhos e molda nossos desejos, que nos robotiza e coisifica a todxs, todo o tempo, sem excessão, sem trégua nem piedade.

Pela primeira vez desde que comecei a militar contra as opressões de gênero- e faz já um bom tempo- sinto um cheiro diferente no ar, sinto um cheiro de Revolução. Gostaria que todos se sentassem em seus camarotes para assistir a chegada do novo. Ou melhor, que descessem para dançar conosco. Peço à nobre platéia que feche os guarda-chuvas, se encharque, se lambuze e sacie-se, pois findou-se o Estio e a Seara será tão grande quanto o poder de nossa Imaginação.

Desejo conhecer melhor o trabalho do Coletivo Ludditas Sexxualis, admito que achei muito rica e poética a expressão “Te sinto como uma irmã siamesa desprendida de minha mesma entranha”, mas admitamos, não passa de um eufemismo para a palavra proibida- e seu conceito: “Amor”. (Lúdicos jamais nos enganarão com seus jogos de palavras e sua 'Novilíngua', hehehe).

Eis uma mão neo-romântica estendida, humildemente propondo trégua e aliança nas lutas. Perderemos todxs se esta for mais uma história de Amor (político) não correspondido.

Carpe Diem!

Erzulie Dorothea Medusa Byron



NOTAS:

(1)Alusão ao artigo “Gigantas, casas, ciudades”, de Beatriz Preciado, que versa  sobre o agigantamento feminino como símbolo do medo da ruptura feminina com o espaço doméstico nos anos 1950.

(2) Informaram-me, à posteriori, que tal artigo alude a uma publicação recentíssima da Editora Milena Caserola, intitulada "Ética amatoria del deseo libertarioy las afectaciones libres y alegres". Que estou devorando com apetite e carinho. Disponível para download em: http://pt.scribd.com/doc/104422336/Etica-amatoria-del-deseo-libertario-y-las-afectaciones-libres-y-alegres

(3)MADA: “Mulheres que Amam Demais Anônimas”. Grupo “terapêutico” de apoio mútuo, baseado nos moldes e técnicas dos Alcoólicos Anônimos e dos Narcóticos Anônimos. 



*Segue video de evento ocorrido no ano passado, com a participação da nossa colega Leonor Silvestri. Tamém discordei de muita coisa, mas isso é matéria para próximos posts.



No closet

Desbundai e putiái!
Ave Butler! Hail Mott!


Os partidos, agremiações e instituições da esquerda brasileira (ao menos aqueles que se importam com as chamadas opressões específicas) estão perdendo a guerra contra o machismo. Temos reparado, de uma forma muito freqüente, a toda uma série de maus-exemplos, vindos de nossa juventude e de nossas lideranças.
A ANEL, a CSP e especialmente o MML têm desgraçadamente falhado no embate as opressões de gênero por falta de conhecimento e bases teóricas sólidas. Uma primeira critica se pode fazer à insistência destas instituições em defender um modelo teórico centrado no recorte de classe (a chamada 2ª onda feminista) em detrimento de todo um debate sobre a opressão de gênero em si. Não é viável pensar na diferenciação do sexismo vivenciado pela mulher burguesa, a proletária, a negra, a estudante, se não há uma explicação aprofundada para o origem da homofobia, do cissexismo e do machismo. Por exemplo, a ANEL apresentou por ocasião do I Encontro de Mulheres da UFRJ, uma contribuição que meramente ignora debates acadêmicos que têm viabilizado lutas e ações diretas em todo mundo- ao exemplo da Marcha das Vadias, Bash Back, queer theory, pós-pornô, anti-sexo- acusando estes movimentos de serem ‘pós-modernos’ e burgueses, subestimando a força política por trás de tais fenômenos sociais.
Das diversas opressões específicas, o machismo é a mais importante, pois atinge intimamente todas as pessoas, indiferente de raça, religião, classe social, idade e gênero. E é central o seu embate por que engendra, constrói e organiza todo um sistema de poder. O machão sofre por ser obrigado a endurecer seu discurso desde que nasce. As mulheres, crianças e idosos sofrem com as agressões de seus companheiros e parentes, que aprenderam desde sempre a se fazer respeitar pela força bruta. E os homens mais politizados e que não se enquadram nesta lógica perversa sofrem com uma violenta desqualificação social- tendem a ser considerados pela sociedade como "menos homens".
Infelizmente, sanções do tipo simbólico, como fazer o machão pedir desculpas formais, ou retirar os agressores da organização das mesas, como vimos na greve estudantil da UFRJ, por exemplo, na prática surtem efeito contrário ao esperado. O tiro sai pela culatra por que aquilo que se espera ser uma ação educativa se torna um mau-exemplo, uma vez que tais penas são suficientemente leves ao ponto de serem percebidas não como sanções, mas como conivência institucionalizada à opressão. Apenas para dar um exemplo das distorções, em nosso grupo de discussão política, recentemente definimos que atrasos às reuniões seriam punidos com a perda momentânea do direito de fala. Qual o peso didático de se punir meros atrasos com rigor muito maior que um caso de agressão machista/sexista? Não seria deseducativo, uma vez que passaria aos demais companheiros, especialmente aos mais jovens (portanto, com a mente e noções éticas em formação) e menos informados- ou seja, aqueles que mais necessitariam ser sensibilizados- a idéia de que “não dá nada ser machista”? E pior, além de reincidir no erro, o indivíduo ainda ganha status no interior dos mecanismos e aparelhos, ao demonstrar uma sensibilidade ao tema,muitas vezes falsa.
Acredito que a questão seja muito mais complexa e perversa. Uma das correntes ignoradas pelos companheiros é a dos novíssimos estudos masculinistas. Parece-me que a academia e os intelectuais têm percebido cada vez mais a importância de colocar na mesa também o debate sobre as masculinidades e sobre a opressão do homem. O homem deixa de ser visto como a origem do machismo e passa a ser encarado com um vetor do sexismo, tão oprimido quanto a mulher. Foulcaut nos ensina que as relações de poder, portanto as opressões em geral, não são sempre hierárquicas, assim sendo a mulher nem sempre cumprirá o papel da oprimida, cabendo este papel ao homem. Um exemplo bem simples e que se pode ver a partir de um recorte de classe, é o da alta executiva de uma empresa multinacional (as mulheres estão cada vez mais presentes nas grandes empresas, apesar e por ganhar em média 30% a menos) que discrimina o porteiro do seu edifício e pela noite procura garotos de programa (os homens também estão cada vez mais presentes no opressivo mercado da prostituição).
Numa conversa acalorada com uma colega, expliquei-lhe que valorizar um rapaz pelo tamanho da barba era tão absurdo quanto julgar uma moça pelo tamanho dos glúteos. A barba, conforme podemos observar numa análise da história da moda e dos costumes, fora considerada como indecente e símbolo de desleixo, apenas a partir de meados do século XX e em espaços públicos e privados conservadores, como igrejas e prestadoras de serviços formais. A barba sempre foi tida como um forte símbolo de maturidade viril ao ponto de se acusar de “imberbe”, portanto dignos de descrédito, aos rapazes mais jovens e inexperientes. A idéia, ao contrário do que muito se imagina, é que a barba por fazer, os músculos avantajados, a voz grossa e intimidadora, a competitividade, a disposição instintiva para apelar a violência (mesmo física), a desvalorização da figura feminina, são caracteres desejáveis aos líderes e que devem ser imitados pelos mais jovens. Basta uma olhadela à nossa volta para repararmos quantos em nossa liderança se enquadram no perfil do troglodita sexista.
Muito se critica e se questiona- e com toda razão- o conteúdo e mensagens machistas dos comerciais de cerveja, por exemplo. Mas proponho que se observe também qual a imagem do homem ideal, apresentado nas mesmas campanhas publicitárias. Com excessão do baixinho da Kaiser, que apesar de ser feio (“feio” sob que critérios?) aparecia em meio às beldades dos vídeos (alusão subliminar ao poder econômico como substituição a sedução baseada na aparência física?), a maioria é branca, fala grosso e quase nenhum apresenta a famosa “barriga de chopp”.

“Mulher não é só bunda e peito”. “Homem não é só músculos, barriga tanquinho e status social”.

E assim, chego ao ponto mais polêmico do meu discurso, tais caracteres e símbolos da supralternidade masculina não são apenas desejáveis, como são fetichizados (sexualmente valorizados) em nosso meio, assim como na cultura burguesa em geral. Aprendemos com Freud a importância da sexualidade na formação psicológica e observamos a importância política central do sexo na sociedade contemporânea.  Como diria Foulcault, “sexo é poder”, assim, também é espaço de opressão e também estratégico campo de batalha, na luta contra o sexismo patriarcal.
Há explicações das mais diversas para tal fetiche da masculinidade opressora, desde aquela biologizante, que liga os símbolos de força viril e a conformação dos seios e quadris femininos a capacidade maior de reprodução, até a que o explica através da cultura. Mas indiferente de qual e explicação apresentada, as instituições que defendem o combate as opressões têm feito vista-grossa a estes e outros construtos sócio-culturais do patriarcado. Estamos tão habituados a conviver com tais discursos que tendemos a naturalizá-los ou ignorá-los, quando não os aplaudimos.
É sexy ser machista? O machismo é um mero pecadilho ou um modelo de pensamento que induz a sérias agressões e vitimiza a toda sociedade?
Me dirá uma companheira feminista que cabe à mulher “ensinar” seu companheiro e admoestá-lo a deixar de ser machista. Indago que força cultural levaria uma mulher a escolher como companheiro e dividir o mesmo teto com um homem que sabidamente a irá desrespeitar, e apresento como explicação a defesa despercebida de um postulado básico do patriarcado: enquanto em nossa sociedade o homem é preparado desde a infância para ser o líder, o provedor, à mulher cabe o papel da cuidadora e da curadora. Justamente por isso, naturalizamos a idéia de que a mulher deve “curar” seu companheiro do seu “vicio”. Tal atitude feminina, quando posta em prática, é socialmente perversa, pois desvaloriza e pune com restrições o homem que não se enquadra em tal, ao passo que coroa o machista, dando ao opressor como prêmio, seus maiores tesouros: seu corpo, seu tempo, seus carinhos, seus cuidados, seus sonhos...
Aliás, a idéia de que “se o corpo é da mulher, ela dá pra quem quiser” se ancora noutro postulado patriarcal, a de que o corpo feminino é uma oferenda a ser imolada em nome do macho por ela escolhido, que via-de-regra será, a partir de uma complexa engenharia do fetiche e do desejo (adivinhem...)aquele que se enquadra no perfil do macho-alfa-opressor-burguês. Enquanto houver capitalismo, o discurso do consentimento não passará de mera ilusão e de uma estratégia perversa e excludente de segregação das minorias e de conservação do status-quo- uma vez que é o próprio sistema que define o que é ou não “desejável”. E extremamente violento, pois usa como ferramenta de repressão alguns dos instintos mais importantes para a sobrevivência e sanidade humana.
Sanções simbólicas são deseducativas e perdem o caráter exemplar. Machistas, racistas e homofóbicos devem ser tratados com rigor. É preciso para que tenham algum efeito, que casos de machismo, racismo e homofobia sejam severamente reprimidos para que os agressores não reincidam em tais atitudes. A luta contra as opressões só avançará e terá êxito, quando os agressores deixarem de ser constrangidos e começarem a ser PREJUDICADOS, devido as próprias ações covardes e autoritárias. Indiferente do cargo e posição deste dentro das instituições. Penalidades igualitárias e democráticas! Doa a quem doer- e que doa (muito) nos próprios agressores.
Por outro lado, e eis o paradoxo, aprendemos pela experiência histórica que não se pode levantar guilhotinas em praça publica, pois arriscaremos culpabilizar e perseguir pessoas inocentes. Como diferenciar o machista reincidente e sádico daquele que desconhece e portanto não reconhece os efeitos das próprias ações? Aliás, como reconhecer o limite entre uma brincadeira aceitável e um atentado, se as esferas de poder naturalizam e fetichizam tais atitudes?
Sim, somos todxs machistas! E para vencermos este estágio do capitalismo, precisamos urgentemente criar uma educação radicalmente não-sexista, que contrarie as normas de gênero e ponha em cheque as diferenciações naturais entre meninos e meninas. Precisamos construir uma cultura que desconstrua todas as formas de fetiche e precisamos debater e indagar sobre quem afinal comanda nossos desejos. É preciso, antes de ensinar os homens a não serem sexistas, educar as mulheres machistas (grande parte delas encasteladas no interior do feminismo) para que não valorizem e incentivem seus machos virulentos. E, antes de tudo, temos que admitir nosso tabu, conservadorismo e hipocrisia ao lidar com os temas das sexualidades, desejos e opressões de gênero.

ADENDOS: 
1)Quem está mais familiarizados com os debates sobre opressões de gênero (e de gênero em geral) deve ter percebido que a minha critica fora reduzida propositadamente ás relações heteronormativas e cissexistas. Precisariamos de um espaço infinitamente maior para nos aprofundarmos e discurtrimos outros tipo de relação de poder/opressão. O problema é muito mais complexo do que parece... 
2)Estou muito revoltadx com atitudes de certas lideranças acusadas de serem "machistas" por terem sido pegas "chifrando" seus/suas companheirxs. Isto não é "machismo", é TRAIÇÂO da mais nojenta. E quem trai seus companheiros e não honra seus compromissos, mais tarde, se eleito, desonrará seus eleitores e trairá a classe trabalhadora. Tenho dito :(

No closet

Desbundai e putiái!
Ave Butler! Hail Mott!

*adoraria muito ler as opiniões de vocês sobre o texto abaixo. Aprochegeum-se, o espaço também e seu.

"Se não posso dançar, não é minha a revolução" (Emma Goldman)



Então, pessoal, já me cansei de me desculpar pelas demoras na atualização deste site. Mas como já afirmei anteriormente, considero bem mais construtivo blogar apenas qunado temos vontade e no sentimos inspirados. Mais uma vez minha inspiração vem da necessdade desabafar, colocar pra fora coisas que me têm confrontado no dia-a-dia e que tem estreita ligaçao com o tema principal deste espaço de debate que são os usos do copor e a busca pelo prazer.

Essas ultimas semanas me foram extremamente estressantes. Polêmicas com comerciais de cerveja "transfóbicos", gente desocupada tentando definir a identidade do outro, pessoas muito queridas que eu queria que estivessem ao meu lado e que não se cansam de me criticar. Enfim, um pesadelo. Mas creio do fundo de meu coraçãozinho que o tal inferno astral já está passando e que logo terei boas noticias

Hoje tentarei dar conta de algo bastante complexo e que tem me apavorado nos ultimos dias. Como muitos de vocês sabem, venho de uma cidade bastante conservadora em relação aos "costumes". Pois bem, tenho ultimamente me envolvido com o que chamo carinhosamente de "gangue pornoterrorista", me relacionado (inclusive afetivamente) com adeptos de um certo "libertárianismo". Acontece, e tive que descobrir na base da porrada, que ser "libertário" na capital do funk pornô é extremamente diferente de ser "libertário" numa cidade onde se é ameaçado de morte por andar de sunga.

Tive o prazer de participar de um evento chamado "Corpos Dissidentes" na verdade um picnic em frente ao MAM no Aterro do Flamengo, onde muita coisa me foi desconstruída, e creio ter feito muitas boas amizades. Porém, ao contrário da inesquecível experiência do 8º Enuds este encontro com "libertários" me deu muuuito medo. Terei que experimentar melhor. Tenho sérios problemas com "ismos" e entendo que a maior sacada do século XX foi a queda dos modelos explicativos, na década de 90. O que mais me causa orgasmos é a liberdade de pensar e contestar livremente. "Ismos" em geral se propõe a apresentar o problema destrinchado, mastigado, prontinho para ser devidamente consumido, de garfo e faca.

Como havia comentado naquele encontro, tenho uma história de vida totalmente marcada por repressões sexuais e por restrições ao proprio corpo. Cresci e aprendi que, apear de curtir um boa putaria, como qualquer ser humano, apenas um modelo de relacionamento responsável, não necessáriamente monogâmico, me trará a satisfação que procuro. Entendo que o "romantismo", pois assim tenho denominado meu posicionamento, antes de um enfrentamento mortal ao "feminismo libertáro radical", é um modelo de sexualidade, afetividade tão válido quanto. E baseado nas minhas parcas leituras de Zygmunt Baumann, afirmo que é a proposta mais politicmante contestadora na atualidade, num mundo em que cada vez mais a burguesia global, empurra por nossas gargantas, atraves do discurso policialesco das "ciências PSI" que "o amor romantico acabou. Aceitem que suas relações não serão estáveis por que o mundo que construímos para vós também não é estável" .

O Amor é queer. Só o amor é libertário!

Me acusaram de defender um modelo heteronormativo, mas como uma pessoa que TRANSita e TRANSgride com sua vivência cotidiana,pelo simples motivo de não ter outra opção, as fronteiras do gênero e do sexo pode pregar algum tipo de normatividade, seja "hetero" ou "homo"? Primeiro me digam se meus futuros companhaeirxs, sejam seres uterinos ou penianos, será "homo" ou "hetero", baseado em algo paupável ("gênero" não é) e descutiremos melhor a questão. Me expliquem como farei para dar e receber prazer e carinho,se agora um corpo não passa de um devir, uma realidade a ser definidade num futuro por um médico? Um amor "libertário" entre pessoas "cis" (prefiro chamar de "trans no armario", pois se a marca da transexualidade é a incongruência entre sexo bioassinalado e identidade de gênero, todxs somos "trans") corre-se o risco de ser normativo.O transamor nunca.  O amor "libertário" rompe com as cadeias da opressão de gênero. O transmor, com o gênero em si. É e será ,enquanto houver homens e mulheres, a mais iconoclasta e subversiva experiência imaginável.

Onde se enquandram os desejos e os ideais no enlace da eterna dança dos biopaus e biobucetas?.

Então, respondendo àquela a que amo, mesmo sem saber se serei correspondida algum dia e que me perguntara o porquê de tanta paixão: "por que só pessoas realmente libertárias poderiam responder essas questões e só revolucionários teriam a coragem de romper a barreira intelectual dos "ismos" e dar e conceder prazer, indiferente de "bios-interfaces". E, só para romper a barreira das restrições ideológicas a mim impostas pela cultura do "caretismo": porque seu corpo me agrada e imagino que o meu também te agrade, ou tenha agradado em algum momento- sem gracejos sexistas.(ops!)  e cafajestagens por enquanto.

É tempo de desconstruir, para isto existe este blog, e para isto estou no Rio de Janeiro. Uma braço aos amigos do picnic.Não vejo a hora de revê-los para poder aprender mais um pouco. E proponho que todos os leitores busquem fazer o mesmo. Vençam seus limites. Evoluam. Coragem...

Falarei cada vez mais sobre este fenomeno maravilhos da [pós]modernidade a que chamo de "transamor". Por que isto sim, é liberdade.

CLIPE DE HOJE: Unruly Child: "Very First Time". Uma banda que curto muito e musica cuja letra é um convite. "vamos começar de novo?" ;)

No closet

Desbundai e putiái!
Ave Butler! Hail Mott!

Continuando a polêmica sobre a Despatologização das identidades "trans", reproduzo com carinho um artigo escrito por amigo e companheiro de luta que utiliza o justo codinome  de Menino Guerreiro e e´autodefinido como transhomem (criticas aos identirarismos á parte) e que preferiu apaprecer disfarsado para não sofrer represálias,hehehe. Gostaria muito que alguém comentasse abaixo, concordando ou não e penso que seria muito útil se pudéssemos incluir nunm outro post, um texto favorável a continuidade da patologização, seria um bom contraponto.

Segue o desabafo:.


Venho falar de um assunto que incomoda há tempos. Mas venho como quem é atingido, nada de pretensões acadêmicas. Até agora tudo o que ouvi ou li não me satisfaz, não dá conta do que penso e sinto. Por isso me atrevo a dizer mais.
Falo da patologização da transexualidade. É bem verdade que para mim, esta patologização não é somente de um estado, mas de todas as vidas que teimam em não se adequar estoica e sorridentemente na gavetinha da “preferência nacional”: a heterossexualidade. Não acho que só pessoas trans deveriam estar incomodadas com este julgamento estratificador desrespeitoso, não somos apenas nós xs condenadxs aos códigos, são todxs que desafiam o império heterossexual, altamente arquitetado pela monarquia absolutista da medicina.
Sem sombra de dúvida, questiono a veracidade desta patologia. Se sabemos que a masculinidade e/ou a feminilidade é produzida pela sociedade numa rotina incessante, via adestramento, minha pergunta é óbvia: Porque alguém que não está lucrando nada com esse processo, insiste neste circo? E vem daí minha indignação e até certo ponto, minha irritação com a comunidade que eu deveria pertencer. Falo especificamente dos homens transexuais, as mulheres estão bem mais adiantadas, contudo não é prudente fazer generalizações. Os homens trans, em sua maioria, no contexto nacional, são favoráveis e fervorosos militantes deste encarceramento. Não compreendo. Juro que já tentei, porém não encontro explicações racionais. E como sou um igual, me sinto confortável em argumentar criticamente contra este lugar de “cordeirinho manso”.
     A fala recorrente é de que precisamos do poder médico para realizar as cirurgias e a hormonização. Alguns chegam a aludir a um suposto saber onipotente, que jamais deveria ser contestado, sob pena de cometer um sacrilégio. Seria cômico se não fosse trágico. Tomar o saber médico/psicológico como lei é além de estrategicamente infeliz, absurdamente pelego. Não encontro outra palavra que defina melhor esta situação. Não escondo que busco respostas mais contundentes em outros saberes, e que me encanta muito mais teorias mais críticas e menos arrogantes.
     Metanarrativas me incomodam. Superciências (ou super cientistas) me aborrecem. Prefiro a compreensão do fenômeno contemporâneo da transexualidade pela perspectiva de ser apenas uma outra forma de existência que não se alinha aos caminhos ditados de uma sociedade incapaz de conviver pacifica e harmoniosamente com a diversidade de vidas. Não falo nem humana, porque o meu planeta não é só meu, nem de minha tola espécie. Ainda bem, somos muito entediantes e mesquinhos para a Terra.
     Voltando ao propósito. Penso que é preciso compreender a apreensão da sexualidade e da corporalidade pela medicina e suas derivadas como mais um jogo de manutenção do status quo, em que essas ciências são apenas algumas formas de conhecimento, sem nenhuma chance de representarem a perfeição no status científico. Palavra final não “rola mais” num mundo em que a informação não é mais (ou pelo menos não deveria ser) um privilégio de alguns grupos, em que o monopólio das ciências naturais como explicação para os fenômenos sociais já foi derrubado e em que se reconhece cada vez mais que NENHUMA ciência ou NENHUM conhecimento é sólido e impermeável a ponto de ser dogmático. Enfim, acredito que esta defesa acalorada do saber médico, só demonstra o descompasso da população trans e a própria história social, uma vez que trata-se de uma tática de obediência e servilismo, sendo que estas “habilidades” nem sempre nos trouxeram qualquer retribuição.
     Aceitar ser patologizado é rasgar seus direitos civis, é infantilizar-se em troca de uma aceitação social (que nunca acontece), é descrever-se como ser sem escolha, é resignar-se com um destino infalível, é deixar em outras mãos o seu futuro e o seu presente, é negar que só temos presente e pretendemos um futuro ao sermos obra de um passado que também construímos, é fazer escambo com sua dignidade, é autorizar outrem a tutelar nossas vidas e corpos, é doar aos nossos inquisidores e carrascos o chicote que nos violenta com suas definições, laudos, testes, comprovações e todas as artimanhas que esses donos de nossas mentes e almas utilizam para domar o instinto de toda vida que existe: o instinto de existir como quiser.
     Contudo, meu intento ainda é outro. Gostaria muito de descobrir, ou de pelo menos compreender, ainda que pouco, as motivações que levam tantos homens transexuais a aceitar a patologização de sua experiência, que só piora quando ouço frases do tipo: “sei que não sou doente, mas precisamos deste status por hora”. E quando será o momento de questionar essa arbitrariedade? Quando nossos destinos já estiverem selados com a extradição de nossos corpos ao terreno das aberrações “corrigidas”, ou na linguagem do poder médico “readequadas”? Esta postura me faz temer muito o quê pode nos esperar, pois, ao contrário dos meus iguais não acredito piamente na “bondade irrefutável” e na “perfeição celestial” da medicina, portanto, temo o futuro relembrando o pretérito. Em outros tempos – não tão distantes – o “tratamento” para a correção das anormalidades poderia ser muito semelhante às práticas do santo ofício ou dos campos de concentração da Germânia nazista. Vai que a moda volta, não é mesmo? Seguro morreu de velho.
     Penso que para esquematizar minhas conclusões seria pertinente à divisão em dois eixos explicativos para esta sujeição voluntária de meus compatriotas de corpo ao poder abusivo das ciências médicas e suas adjacências. Meu primeiro possível entendimento para tal conduta está relacionado à constante necessidade do ser humano de hierarquizar tudo e todxs. Chamarei aqui de hierarquia residual. Minha outra elucubração é muito mais complexa de definir, minha crença é que de alguma forma que não consigo compreender (por mais que esforce ao máximo) minha população acata todo este teatrinho da patologização encenando perfeitamente seu papel de dócil doente convicto devido a uma implicação moral. Há algum ganho moral nesta perversa posição. E este proveito que não me convence em nada, e talvez por isso, me seja tão difícil a compreensão.
     Pois bem, vamos aos pontos. Denominei de hierarquia residual (e afirmo que se outrxs já usaram este termo, peço desculpas, mas desconheço) a ocorrência da manutenção de divisões altamente hierárquicas em minha população. Os hormonizados são considerados mais homens que os que não iniciaram a sua terapia. Os que têm o laudo estão à frente de quem ainda não o possui. Aqueles que fizeram cirurgias (principalmente a mastectomia, sendo que tamanhos menores dos seios também são indicadores da “masculinidade”... Hã???) são mais masculinos e “mais convictos” que outros, pois já estão em fase final de transição. Quem alterou a documentação conseguiu atingir todas as etapas deste jogo e ganha o título-prêmio de “homem de verdade”. Excluindo minha paciência nula com estes contrassensos, penso que há um motivo real para esta hierarquização, afinal somos todxs ensinadxs a reproduzir a cultura, e nossa cultura é hierarquizante. Parece-me uma tática tola de tão cruel, pois ao inferiorizarmos “os de dentro (nossos iguais)” que ainda não cumpriram todas as exigências do “rito de passagem”, buscamos egoisticamente nos elevar aproximando nossa imagem aos mais adaptados. Darwin e sua teoria (que mais tarde deram origem às doutrinas evolucionistas sociais) demonstra ser leitura de cabeceira de quem sustenta tais convicções. Só digo que vejo tudo isso como um tremendo “tiro no pé”. Ao sustentar que há algo completamente adequado e normal a ser atingido, nos afastamos paradoxalmente da possibilidade de uma existência digna.
     Quanto ao lucro moral não consigo aprofundar minhas análises, pois, como já afirmei, este posicionamento me enoja a ponto de ser passional minha reação. Questiono-me até onde vale teimar nesta luta, em que a própria população deseja a sua cova, e o pior sente-se agraciada com o aprisionamento. Em nome de protocolos de cirurgias que não passam de migalhas, vende-se sua humanidade, sua autonomia e a tutela do estado psiquiatrizante é tida como a "melhor das soluções". Não entendo. Não consigo entender. Como algo tão nefasto pode ser bom? Confesso que não entendo como vitimização, pois, percebo que quem usa o discurso de “não sou doente, mas preciso de tratamento e por isso aceito o adoentamento” é consciente desta manipulação perversa, alimenta este teatrinho de mau gosto. Acredito que tenha a ver com a ideia sinistra de que ao se dizer doente, pensa-se que a sociedade irá aceitar e abrir as “portas da felicidade” para os infortunados do destino. Ora, não há nada mais fantasioso que isto! Perder o direito à escolha por ser portador de uma enfermidade comprometedora de suas faculdades mentais não pode trazer nenhum consentimento social, mesmo que movido por compaixão, para a alegria de pertencer ao rebanho. Ao que me conste, esta estratégia nunca foi muito exitosa. Por que para um preconceito tão arraigado seria? Primeiro que implorar piedade nunca salvou ninguém dos seus algozes. Além de não ser nada honroso ir a uma guerra solicitando o obséquio de ser perdoado por existir. Aliás, até onde eu saiba pedir clemência sempre trouxe apenas um suplício mais duradouro ou uma perene escravidão. Em nada este destino me interessa. Não são as portas da felicidade que se abrem “miraculosamente” para os mais obedientes servos da “normalidade”, são as janelas dos cativeiros da servidão dependente que abruptamente se fecham, impondo à anoxia aos nossos sonhos, aos nossos desejos, aos nossos corpos, as nossas almas e as nossas vidas. É somente enquanto houver a semente teimosa desejante de outro tempo, em que a diferença seja compreendida como constituinte de nossa realidade; outra sociedade, que brinde a diversidade; outro mundo sem hierarquias e sem superioridades estúpidas em nossos caminhos que poderemos conquistar a mais bela das vitórias: a compreensão que somos completxs e destinadxs à felicidade pois somos dotadxs das mais infinitas possibilidades de existência as sermos apenas, e nada mais que isso, seres VIVOS!!!

VIVA A DESPATOLOGIZAÇÃO!!!

MENINO GUERREIRO,.09/06/2012.

*Valeu Warrior Boy! Vamos de MPP-Movimento Pé na Porta!

No closet

Desbundai e putiá

// Copyright © Estado Laico RJ //Anime-Note//Powered by Blogger // Designed by Johanes Djogan //